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Maria da Graça Ferreira Andrade

1949 - 2020

Como guerreira amorosa e taróloga renomada, foi luz e inspiração para todos.

A infância de Maria da Graça foi no Rio de Janeiro com muita simplicidade. Costumava relatar que ela e os irmãos nunca puderam ter roupas e calçados novos (eram sempre fruto de doações); que os brinquedos eram feitos de espigas de milho e de caixas velhas, mas que seus pais sempre lutaram para que não conhecessem o que é a fome.

Lembrava-se da infância com alegria e dizia que, apesar de tudo, era muito feliz. Como primogênita, muitas vezes, tinha que ajudar a cuidar dos irmãos mais novos. No começo da adolescência, mais precisamente aos 11 anos, Silvyo, seu pai, foi transferido para Brasília e sua mãe, Maria das Dores, permaneceu no Rio de Janeiro com os seis filhos até que todos puderam se juntar no ano de 1960 e, daí em diante, viveram todos muito unidos.

Maria da Graça teve dois casamentos. O primeiro foi com Marino, que foi seu colega de escola e que a conquistou com muita paciência e perseverança. Casaram-se quando ela completou 21 anos e tiveram os filhos Shuly e Wagner. Quando ficou viúva de Marino, Shuly estava com apenas 6 aninhos.

Passado um ano, ela conheceu Rivail na agência dos Correios onde trabalhava. Segundo ele, foi amor à primeira vista e que sempre arrumava uma desculpa para ir à agência para vê-la. Resolveram se casar depois de um ano de namoro e viveram juntos por quatro décadas. Ele, que também já possuía quatro filhos de uma união anterior, teve com Graça mais dois: Sérgio e Mariângela, e foi um verdadeiro pai para todos desde o dia do casamento, quando Shuly pediu para assim chamá-lo e, desde então, a menina passou a considerar ter tido dois pais.

A nova família formada tornou-se numerosa e os filhos de ambos viveram como oito irmãos. Sua casa era um local de aconchego para todos, fazendo do domingo o melhor dia da semana, pois era nesse dia que irmãos, tios, primos e sobrinhos se juntavam ali.

A filha relata com emoção uma história de sua infância, numa ocasião em que perguntou para a mãe a origem de seu nome e ela lhe contou que, poucos dias antes do seu nascimento, já sabia ─ por meio de um sonho ─ que ela seria uma menina. No sonho, a filha tinha os cabelos bem curtinhos e estava debaixo de uma mesa, na casa da avó. A menininha apareceu para ela dando um tchau e dizendo: "Eu vou me chamar Shuly". Então, ao acordar no dia seguinte, Maria da Graça disse para o marido: "Ela vai se chamar Shuly Marina em homenagem a você, Marino".

Ela era guerreira, amorosa e fazia caridade discretamente. Além disso, era brincalhona, palhaça, amiga, uma supermãe e fonte de inspiração para os maridos, filhos, pais e tios. Sabia apreciar também os valores dos filhos e constantemente dizia ter muito orgulho da filha (pela mulher e mãe que ela se tornou).

Sempre trabalhou fora e, nas horas vagas, além de conversar, adorava cantar e dançar, ver filmes e ouvir músicas. Também gostava de ler Tarô e se tornou uma taróloga muito conhecida em Brasília e em outras partes do mundo. Nesse meio, todos chamavam-na de dona Graça.

Tinha como hábito incentivar as pessoas dizendo-lhes para seguir em frente com Deus no coração que tudo daria certo. Afirmava também que, o dia que ela fosse embora, nunca iria abandonar os seus e, agora que ela se foi, apesar desta certeza e da saudade, continua sendo a luz que ilumina o marido e os filhos.

Maria nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Brasília (DF), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Shuly Marina Ferreira de Sousa do Nascimento. Este tributo foi apurado por Samara Lopes, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de junho de 2021.