Sobre o Inumeráveis

Maria das Graças de Souza

1950 - 2020

Resplandecia amor e paciência, ensinando que o que permanece sobre nós é a pessoa que fomos durante a vida.

Homenagem da afilhada, Jaqueline, à sua amada madrinha:

Maria tinha graça até no nome.
E uma mania de dar mais amor do que as pessoas podiam carregar.
Era parecida com a minha mãe, sua irmã, que também era Maria.
Compartilhavam do mesmo signo e de rugas cheias de causos.
E que lhes caíam tão bem.
Nasceram com fraqueza para cair, mas com uma força incomum para levantar.
E não herdaram a raiva que vinha de seu pai.
Sua irmandade transbordava e as faziam ver a humanidade como a seus filhos; suas maiores paixões.
Semeavam sonhos antigos com cheiro de terra quente do sertão.
E viviam seu presente com dignidade intensa:
Quando ficavam tristes, não choravam, se derramavam.
Quando ficavam felizes, não sorriam, lampejavam.
Quando sentiam raiva, não gritavam, incendiavam.
Quando amavam, não declaravam, flutuavam.
Mesmo assim, às vezes, as pessoas iam embora.
E mesmo com o coração partido, não sofriam, estilhaçavam.
E pediam paciência.
Porque se a tristeza vem, a felicidade vem no seu encalço.
Palavras de quem o mundo deu tanta dor.
Que a sabedoria ajudou a transmutar em honra.
Essa que nos lembra que as pessoas vão, mas quem elas foram fica para sempre.

Maria nasceu em Iracema (CE) e faleceu na Praia Grande (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela afilhada de Maria, Jaqueline Nichi e Ana Macarini. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Jaqueline Nichi, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2022.