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Maria das Graças Faustino

1962 - 2021

Conseguia identificar se havia algo errado com os filhos só de olhá-los; "Pela tinta do olho", como ela dizia.

Ela era alegre e sorridente como um raio de sol e, apesar das dificuldades, esse sorriso a acompanhou durante toda uma vida de luta e de vitórias. Assim era Maria das Graças, conta a nora Elizete.

Tinha sete anos quando começou a ajudar os pais na lida da roça; era uma entre 12 irmãos, numa família de agricultores. Dona Graça, como era conhecida, não tinha medo do trabalho, por mais pesado que fosse: na roça, no lar, como cozinheira, como doméstica ou quando a situação ficava crítica e ela acumulava mais de um emprego a fim de garantir o sustento da família.

Evangélica, muito temente a Deus, Dona Graça gostava de escutar os hinos. Tinha carinho especial por "Sobrevivi", da cantora Sarah Farias, que lhe tocava, talvez, por expressar muito de sua história na melodia e nos trechos: “[...] tem coisa boa chegando; tem algo acontecendo e não importa o que eu sofri, o que importa é que eu sobrevivi”.

Mãe do Josélio e da Andreza, nascidos do casamento com José Faustino, seu companheiro por quarenta e dois anos, ela era incansável no amor pelos filhos, que a tinham como um exemplo de força, de coragem e de luta.

Era mãe coruja e protetora: ligava o tempo todo, várias vezes ao dia, a fim de acompanhar o bem estar deles. Nenhum dos dois era capaz de esconder um problema ou preocupação dessa mãe atenta.

Era intensa nas suas emoções: amava com todo o coração, sua fé em Deus era inabalável e, quando ficava zangada, a raiva demorava a passar, mas no final passava. Ultimamente se mostrava mais fragilizada e vulnerável, e quando as coisas não iam bem, escondia a tristeza com um sorriso.

Tinha um coração gigante, que abrigava muitos, como as asas da águia, cantadas no hino que tanto gostava. Dava muito amor, e também gostava de carinho. Tinha prazer em cuidar de crianças, e os pequenos se davam muito bem com ela. Estava sempre preocupada com os outros, mesmo que isso lhe custasse sacrifícios.

Todos sentirão falta da Dona Graça: da “baixinha braba” que também era alegre, sorridente e teimosa, que apreciava galinha caipira e peixe; da mulher trabalhadora, humilde, leal e companheira. Ela permanecerá nos corações daqueles que a amaram, como exprime tão bem o filho Josélio: "Mãe, eu sou parte da sua vida e você é toda minha história."

Maria nasceu em Mossoró (RN) e faleceu em Porto Velho (RO), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela nora de Maria, Elizete Gonçalves Silva Faustino. Este tributo foi apurado por Daniel Ventura Damaceno, editado por Rosa Osana, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Ana Macarini em 17 de agosto de 2021.