1952 - 2020
Ensinou que dando um passo de cada vez, como em uma dança, chega-se onde se quer.
Vinda de Barras, no interior do Piauí, chegou adolescente na Capital do Rio de Janeiro. Trouxe consigo as memórias da infância, repletas de cenas em que tomava banho de rio e comia fruta do pé. Ela, que lembrava com carinho das belezas naturais do Sertão Nordestino, também se maravilhou com os contornos da Orla de Copacabana e do Aterro do Flamengo.
Jovem e em uma cidade efervescente, Maria de Lourdes adorava sair para dançar com as amigas. Samba, Bossa Nova, Pop até podiam animá-la, contudo Lourdinha – como a conheciam – era moça forrozeira! "Ela amava suas raízes e gostava muito de um forró que dizia: '...tanto que te quero bem...', conta o sobrinho Renato, que a considerava sua "tia-mãe".
Maria de Lourdes não se casou e não teve filhos biológicos, vivendo o amor maternal com seus sobrinhos. "Nós, sobrinhos, fomos os filhos que ela adotou para si. Vivemos todos juntos desde que nascemos, praticamente", relembra Renato.
Conhecida por seu pragmatismo e por ter suas convicções e segui-las, foi assim que Maria de Lourdes se formou em Direito e trabalhou – até se aposentar – no Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.
Ela, sempre se fazendo tão presente na vida dos sobrinhos-filhos, foi a maior inspiração para Renato ter cursado Direito e ter passado em um concurso no mesmo ano em que se formou. "Na minha formatura, há quase 10 anos, falei à ela 'você é a grande responsável por isso'. Nesse momento, ela chorou emocionada". O sobrinho-filho lembra desse dia como o que melhor traduz a relação que tinham.
Com as sobrinhas, irmãs de Renato, a proximidade não era diferente. Juntas, elas viajaram para a Europa, bem naquele estilo de viagem mãe e filhas. Maria de Lourdes colecionava lugares para onde já tinha viajado, mas esta foi inesquecível.
Tanto na adolescência quanto na vida adulta, por onde Maria de Lourdes passou, ela construiu boas amizades. Amigas não lhe faltaram e elas, inclusive, foram as suas grandes companheiras por toda a vida.
Como na dança, viver pede adaptação, por vezes rigidez, por vezes malemolência. Pede confiança, entrega, pede um passo de cada vez. "Os últimos dias com ela nos fizeram pensar sobre a brevidade e a continuidade da vida. Para nós, que continuamos, seguimos com esperança para propagar o legado deixado por pessoas como ela".
Maria nasceu em Barras(PI) e faleceu em Rio de Janeiro (RJ), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho e afilhado de Maria, Renato Barros. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Michele Bravos, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 11 de dezembro de 2021.