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Maria de Lourdes Godoi Vieira

1924 - 2020

Matriarca da família, com sua doçura ensinou a todos que a união é o bem maior que se pode ter.

Essa é uma carta aberta da neta, Tatiana para sua amada avó.

Falar de Dona Fia é algo fácil: mulher guerreira, de uma fé inabalável, mãe de 12 filhos. Trabalhava o dia inteiro nos correios, cuidava da casa, do marido e das crianças . Mulher de personalidade forte que nos ensinou o que é o amor. Construiu uma família linda, com os filhos, mais de 15 netos, e seis bisnetos, além das noras e genros.

Os filhos e netos cresceram e se espalnharam pelo mundo, sendo que alguns residemem Brasília, Rondônia, São Paulo, e até no Japão. Mas em duas datas, indiscutivelmente a gente se encontrava, no Dia das mães e no Natal. Sempre havia uma festança com a reunião de todos nós, vindo de todos os cantos desse Brasil. E Dona Fia era pura alegria, curtia a presença dos filhos e netos, com toda doçura e amor que só ela sabia ter.

Sempre foi aquela que trazia a união dessa família imensa, a matriarca que a gente achou que seria eterna. No último aniversário dela comemoramos seus 96 anos e mal sabíamos que essa seria a última vez que nos reuniriamos pra comemorar essa data e que em poucos dias o mundo viraria de cabeça pra baixo com a pandemia.

De repente o dia das mães de 2020 ficou diferente, a gente não fez a festa que estávamos acostumados a fazer, e nem pudemos visitar você vVózinha. Mas nas férias de julho, saímos de Brasília e fomos te ver, mesmo que de longe, pela porta da cozinha, onde a senhora estava sentadinha em sua cadeira. Pudemos matar a saudade, mesmo sem poder te abraçar

No mês seguinte novamente fomos te visitar. Dessa vez a gente sentou junto, de máscara, sem poder ainda se abraçar. E foi uma delícia, porque eu, você, Lucas e Mateus jogamos dominó. Ao chegar no fim do dia prometemos voltar em setembro e te ensinar a jogar baralho. O que a gente não esperava era que pouco mais de um mês depois da nossa última última visita, a senhora estaria dando entrada no hospital. Foram dias difíceis, mas a senhora lutou bravamente contra essa doença, esperou que todos os filhos estivessem em Goiânia, para assim partir pra uma nova jornada, longe dos nossos olhos, dos nossos abraços, mas perto de muitos que já se foram e que com certeza estavam de braços abertos te esperando.

Só posso agradecer a Deus por ter permitido que a senhora ficasse com a gente por noventa e seis anos, amando e e cuidando sempre de todos nós.

Somos gratos pela família honesta, íntegra e amorosa que a senhora formou. Seus filhos, netos e bisnetos têm muito orgulho da Dona Fia, aquela que deixou muita saudade nos nossos corações. Por aqui a gente segue unido, fazendo tudo do jeitinho que a senhora queria. Sua falta dói, sua presença constante em nossas vidas ainda é muito forte. E agora, a gente sabe que pra falar com a senhora, basta fechar os olhos e fazer uma oração. Amo você Vó

Maria nasceu em Goiânia (GO) e faleceu em Goiânia (GO), aos 96 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Tatiana. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 11 de dezembro de 2021.