1949 - 2020
Dona Lourdes viveu plenamente, aproveitando a vida e dançando muito.
Dançar. Essa foi, talvez, a atividade preferida de Dona Lourdes. Quando não estava costurando ou cuidando da família, soltava o corpo ao som de qualquer música - em casa ou nas aulas de dança no CEU Quinta do Sol, na Zona Leste de São Paulo. Lá, também se juntava às amigas para fazer hidroginástica, conversar e rir. Soube aproveitar a vida e manteve sempre um largo sorriso no rosto.
Muito ativa no bairro, não passava um domingo ser ir à igreja. Não perdia festas nem bingos e cultivou muitos amigos por onde passou. Muito preocupada com todos, estava sempre pronta para ajudar, ainda que com uma dica, sermão ou simples palavra de conforto.
Dona de casa, acordava sempre cedo, e amava costurar. Por um tempo trabalhou em oficina de costura e, depois, passou a usar um quartinho em casa para fazer reparos nas roupas dos familiares. Aos netos, ensinou a limpar as máquinas. Mas não só isso.
Três deles foram criados por ela quase a vida toda. Para Victor, que morou com a avó, o avô e os dois irmãos, por 20 anos, ela foi a mãe que eles não tiveram - já que a biológica morreu quando eram bem pequenos. Era dona Lourdes que ia a reuniões de escola, dava bronca e muito carinho também, só para resumir sua importância imensurável.
Além desses, cuidava, durante o dia, de outros dois netos. Dava banho, comida e os levava para a escola, enquanto a filha dela trabalhava fora. Entre as atividades com os pequenos, limpava a casa, cozinhava e conversava com as plantas.
Com seu amado companheiro José da Rocha Veloso, viveu 54 anos. Ele, que ainda espera a amada descer de cada ônibus que para na rua de casa, acredita que irá reencontrá-la a qualquer momento. Juntos, construíram uma vida de alegria e amor, tiveram cinco filhos, muitos afilhados e nove netos.
Ela também viveu plenamente o sonho da cidade grande. Depois de casar aos 16 anos e ter o primeiro filho em São Francisco, no norte de Minas Gerais, mudou-se para São Paulo. Desde o dia em que chegou, nunca pensou em voltar para a cidade natal. Ia até lá apenas para visitas, porque aprendeu a amar SP. Com o objetivo de “tentar a vida”, não se conteve a construir a própria família ali, mas esforçou-se para trazer também os amados irmãos, sobrinhos e primos. E alegrava-se enormemente por ver cada um deles se realizando.
Dona Lourdes foi porto seguro e será o amor maior de todos eternamente. Uma frase, que repetia sempre, ficará de inspiração e motivação para quem a amou: “A gente vai vencer, porque a gente tem que viver!”.
Maria nasceu em São Francisco (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo neto de Maria, Victor Hugo Silva Veloso. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mariana Campolina Durães, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 3 de outubro de 2020.