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Maria de Lourdes Oliveira Peixoto

1937 - 2021

Em tudo ela estava lá, com seu olhar gentil e sorriso solto, dizia a todos que o importante é ser feliz!

Determinada, Maria de Lourdes mudou-se da Bahia para São Paulo aos 19 anos — na verdade, um pouco menos, já que teve que mentir sua idade para poder viajar. Analfabeta, aprendeu sozinha a ler e a escrever, e logo também aprendeu a fazer as contas básicas, tornando-se uma ótima comerciante e manicure.

Criou quatro filhos sem poder contar muito com a ajuda do marido, preso ao alcoolismo, e dentro de uma sociedade que não era gentil com uma mulher nordestina, de personalidade forte, que falava o que pensava quando resolvia “rodar a baiana” e que sabia muito bem defender os seus.

Embora fosse essa "força da natureza", era carinhosa e sabia exatamente o que era amar. Amava cozinhar e receber visitas em sua casa era sinônimo de festa. Para ela, seus filhos e netos eram seres sagrados, que só ela tinha o direito de “esculhambar” - risos.

Gostava de assistir a programas de TV, especialmente novelas, já que por meio delas podia viver várias vidas em uma — intensamente.

A neta Bianca, sua maior fã, fala sobre ela com muito carinho e gratidão: “Foi muito mais que uma avó, foi mãe, pai e amiga. Ríamos tanto, que a diferença de idade sempre sumia e parecíamos duas adolescentes falando da vida e fazendo “anarquia”, como ela dizia.

“Foi a pessoa que mais acreditou em mim e me apoiou, desde as loucuras de tocar violão, a ter uma empresa, mudar de cidade, adotar um gato, fazer tatuagem. Das decisões cotidianas até aquelas que mudam sua vida para sempre, ela estava lá. Em tudo ela estava lá, por mim.

“Todos os dias de manhã ela me irritava ao me acordar uma hora antes do horário, mas logo me acalmava por sempre ter um delicioso café na mesa. Ela me ensinou muito e sou muito grata, porque tudo que me tornei tem muito da minha avó. Foram tantos anos, conversas e momentos que nunca se apagarão. Ela era aquele tipo de pessoa em quem o amor transborda. Nem sempre é fácil de lidar com o excesso do sentir, mas quando você aprende é difícil não lidar, porque o vazio se torna maior. Toda essa energia e intensidade estará guardada no meu peito.”

“A saudade será eterna e grande, mas a gratidão sempre será ainda maior”, conclui Bianca.

Maria nasceu em Queimadas (BA) e faleceu em Piracicaba (SP), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Maria, Bianca Vieira Peixoto. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 27 de junho de 2023.