1940 - 2021
Nem os eventuais episódios de mau humor conseguiam abalar seu carisma.
"Vovó Nazaré" era um ícone: gostava de uma fofoquinha e das coisas sempre ao seu modo. Era louca por melancia e, mesmo não podendo comer por conta do diabetes, amava doces.
"Vovó era agridoce. Sempre ria muito e zoava todos da família, mas também tinha seus dias de mau humor, que deixavam todos malucos", conta a neta Lorena.
Os vizinhos amavam-na; afinal, não tinha como ser diferente: além de muito carismática, Nazaré estava sempre com um sorriso no rosto.
"Eu poderia escrever um livro, lotar uma biblioteca inteira só contando suas histórias e falando sobre a saudade que sinto. Lembro-me de todas as suas manias, de cada gesto... Todos os dias, quando eu acordava, Vovó Nazaré tinha mania de falar: 'Isso é hora de acordar, Maria?'", diz a neta Juliana.
"Vovó tinha os cabelos bagunçadinhos, amava as camisolas mais simples de todas", conta Juliana, que diariamente relembra os momentos passados junto da avó. A neta promete: "Vou realizar seu sonho de ver sua casinha do jeitinho que você queria. Você tinha uma alegria contagiante, e aprendi tantas coisas com você que vejo muito de você em mim. Aprendi que a vida foi feita para ser vivida sem limites, sem lacunas, e a senhora se agarrou tanto à sua que não aguentou vivê-la pela metade, pelos cantos, pelas beiradas... Segurou na mão de Deus e foi para a casa onde Ele te esperou por tanto tempo. A morte é apenas o começo de um novo ciclo, e eu fico extremamente feliz em saber que a senhora está iniciando o seu depois de ter cumprido o seu dever na terra como quase ninguém conseguiu (ou conseguirá). É por isso que me segurei e não chorei ao escrever: porque a morte deve ser aplaudida, deve ser recebida com alegria e com orgulho. Tenho orgulho porque faço parte de uma família que a senhora originou e orgulho de ter absorvido dez por cento da sua força. E que força, vó. Que força!"
Para os familiares, foi uma alegria poder compartilhar um tempo e uma época com a Maria de Nazaré. Mas as guerreiras também se vão. Vovó Nazaré será para sempre amada pelas netas e pelos seus outros familiares, que não têm ideia da hora, nem do lugar, porém sabem que um dia estarão juntos novamente na vida eterna e no melhor lugar: ao lado de Deus no Paraíso.
"Eu te amo! Cuida da gente aí de cima, vovó. Você e o Jefferson, meus anjos da guarda. Sei que aí no Céu a senhora já está preparando uma linda casa para nos receber", declara Juliana.
A matriarca da família Ferreira partiu deixando seis filhos queridos, nove netos e dois bisnetos, mas, acima de tudo, deixou muitas saudades e boas lembranças.
Maria nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas netas de Maria, Lorena Amassuri Ferreira e Juliana Cristina Amassuri Ferreira. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 22 de julho de 2021.