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Maria do Carmo Batista

1964 - 2021

Tinha uma receita infalível para reduzir as calorias dos mais elaborados quitutes: "Pinga limão que não engorda!"

Vendedora autônoma de cosméticos, de personalidade simpática e comunicativa, Maria do Carmo conquistava os clientes e os cativava como amigos. Casada com Ailton por vinte e dois anos, viveram uma sólida relação, repleta de afeto e companheirismo. Era mãe de Flávia e de Fabinha, a caçula. Foi uma ótima esposa, companheira e amiga, uma mãe que se dedicou muito às filhas numa relação que poderia ser definida numa só expressão: amor incondicional. “Ela não parava quieta. Amava trabalhar e sempre buzinava a sua motinho para cumprimentar os que passavam”, conta Flávia.

Maria do Carmo amava estar com os netos Gabriel, Kawany e Kaleby. Nas horas vagas, gostava de comprar sorvete para tomarem juntos. Sua convivência com eles era repleta da mais pura proteção e cumplicidade, principalmente com Gabriel, filho de Flávia, a quem ajudou a criar desde pequeno. Era uma espécie de psicóloga para os netos adolescentes e carregava consigo, como seu maior sonho, ver todos eles sempre felizes, realizados e saudáveis.

Os almoços de fim de semana eram momentos de muita alegria para Maria do Carmo porque era quando todos partilhavam da refeição de fim de semana. Ela tinha satisfação em arrumar a mesa e decorar a salada, sempre dizendo que, além do sabor, a beleza era imprescindível. Os jantares das noites de Réveillon eram a sua comemoração preferida, e fazia tantas sobremesas que nunca se conseguia comer tudo o que ela preparava.

Ainda com relação à comida, todas as vezes em que se comia algum quitute calórico, tinha o hábito de recomendar que se colocasse limão "para não engordar". Ela sempre dizia: "Pinga limão nessa carne"!

Maria do Carmo conseguia manter a família unida e dizia que, quando partisse, era para todos permanecerem unidos. Foi uma sogra amiga, que os genros tinham como uma segunda mãe. Cuidava mais da família do que de si mesma, sempre enxergando o melhor nas pessoas; saber perdoar era uma das suas maiores qualidades.

Ela era evangélica e ouvir o hino "Mais grato a Ti”, da Harpa Cristã ou uma música chamada “O Escudo”, do grupo gospel Voz da Verdade, faz a família se recordar muito dela.

Flávia conta que a mãe era uma mulher muito corajosa e relata um fato para ilustrar sua coragem: “Eu me recordo de quando tivemos que mudar de cidade. Éramos adolescentes e deixamos Goiânia para viver em Águas Lindas de Goiás. A mudança não estava nos nossos planos: foi motivada pelo assalto que sofremos em um pequeno comércio que tocávamos. Tivemos medo, preocupações e incertezas naquele momento. Porém, mesmo com inúmeros sentimentos negativos pairando na mente, ela teve coragem de se arriscar e, graças a Deus, deu tudo certo! No começo passamos por muitas dificuldades, mas Deus nos proveu a vitória”.

Recorda-se também com saudade do último aniversário da mãe, quando ela completou 56 anos e a família preparou uma festa surpresa — que foi maravilhosa! O seu semblante de surpresa, com os olhos brilhando de felicidade, ficarão marcados para sempre.

O maior ensinamento deixado por Maria do Carmo foi o de que sempre se deve ajudar o próximo e ser honesto. Ensinou também a importância da fé e o quanto a crença no Senhor é essencial nos momentos difíceis.

Maria do Carmo era muito querida por todos com quem conviveu e a esse respeito Flávia conta: “Quando fui visitar meu pai, na cidade goiana de Minaçu — onde moramos quando eu era pequena —, todos me falaram o quanto gostavam dela. Apesar de estarem separados há muito tempo, meu pai também sentiu muito a morte dela”.

Flávia finaliza, dizendo: “Ela era a minha melhor amiga e conselheira: eu contava tudo para ela. Nos momentos em que tinha receio, era ela que me dava uma palavra de ânimo. Sinto a falta dela todo dia! Volta e meia penso em como gostaria que ela tivesse tomado a vacina. Sua morte fez com que eu sentisse a perda de diversas pessoas em uma só: mãe, amiga, um "pai" para o meu filho. Inclusive, fiz uma tatuagem para homenageá-la: "Mamy, amor eterno! Eternamente, minha mamy”.

Maria nasceu em Crixás (GO) e faleceu em Brasilia (DF), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Flavia Carla Rodrigues Batista. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 29 de julho de 2022.