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Maria do Socorro Silva das Neves

1941 - 2020

Mulher que, com luta fé e amor, tirou do barro o sustento, a educação dos filhos e a realização de seus sonhos.

Dona Socorro nasceu na região do Morro da Mariana, em Ilha Grande de Santa Isabel, no litoral piauiense e, com seu esposo Francisco Gomes, mudou-se para Teresina, onde juntos, cheios de esperanças e sonhos, estruturaram-se e formaram a grande família Neves, composta em 2020 por 12 filhos biológicos e alguns não biológicos, 33 netos e 13 bisnetos.

Uma vez, em Teresina, ganharam um pequeno pedaço de chão num bairro, à época denominado Favelão, e que mais tarde passou a se chamar Bairro Mafrense. Ali, numa casa de taipa e barro, iniciaram uma vida simples onde tiveram espaço para uma grande possibilidade de mudança.

Esse bairro tinha uma característica bastante peculiar: o barro vermelho. Essa argila, misturada com um pouco de água, permitiu ao casal descobrir um dom até então desconhecido por ambos. De um barreiro, semelhante a uma lagoa, retiraram uma pequena quantidade de barro que amassaram e dele extraíram o milagre de produzir os primeiros tijolos que foram utilizados na construção da própria casa. Depois, esses blocos de barro tornaram-se o sustento financeiro com o qual puderam educar os filhos.

O barro foi a rotina e a mudança na vida de Dona Socorro e do Senhor Francisco, o que transformou seus sonhos em realidade. Diariamente, ele era retirado do fundo do barreiro e preparado; os tijolos batidos na forma; a caieira (forno artesanal onde os tijolos são cozidos) acendida; o milheiro de tijolos carregado na cabeça e, finalmente, vendido.

Além disso, o fazer comida para os filhos e o ajudar o esposo na construção da casa, fizeram com que a casa de número 1066, tivesse sua estrutura física inicial transformada e a família fortalecida em seus laços de amor por meio das grandes e belas histórias ali vividas.

Daí ao apelido de "Dona Socorro Oleira", foi um pulo! No bairro Mafrense, ela não apenas constituiu a família, mas também deixou sua marca na arte da olaria que a tornou conhecida em toda a região.

Pessoa temente a Deus, não titubeava em testemunhar sua fé por meio das palavras.

Quando as limitações físicas trazidas pelo tempo chegaram, todo fim de tarde, a partir das 17h, durante anos, Dona Socorro e o Senhor Francisco Gomes postavam-se à porta de casa saudando, dando boa tarde e falando sobre Deus a todos que passassem por ali.

Essa foi a forma carinhosa que ela encontrou de estar próxima das pessoas, de se manter atualizada dos fatos, de rir das situações do cotidiano, de bater um papo, de continuar a ensinar suas lições de vida e cuidado, enfim, continuar fazendo parte de sua comunidade.

Foi mulher conhecida por sua força, coragem e por ter marcado inúmeras vidas que se modificaram pelo simples fato de com ela terem cruzado. Com seu toque feminino de fazer e acontecer, mostrou que sonhos podem ser realizados com luta, coração, fé e amor.

Em seus 79 anos bem-vividos, foi a "Grande Mãe" que a todos ensinou, incentivou, abraçou e cuidou. Sua partida deixou a família Neves sem sua matriarca, levou consigo um pedaço do domingo, a voz sem pressa que dizia "obrigada" sempre, mas deixou aos descendentes a honra e a alegria de serem uma continuidade de Dona Socorro Oleira do Mafrense.

Maria nasceu em Ilha Grande de Santa Isabel (PI) e faleceu em Teresina (PI), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Maria, Gerlane das Neves Lima. Este tributo foi apurado por Beatriz Maia, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 6 de maio de 2021.