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Maria Dulci de Macêdo

1945 - 2020

Costurava roupas e a autoestima alheias.

Como tantas outras conterrâneas, Maria deixou o Ceará em busca de uma vida melhor em São Paulo. Já casada com José, chegou à região metropolitana da capital paulista para construir sua história e constituir uma família. Teve dois filhos.

Um deles, Francisco, conta que a mãe era costureira. Vivia entre tecidos, linhas, agulhas e modelagens, sempre ao som do rádio, “seu companheiro”. “Elevava a autoestima das pessoas com vestidos ou o simples reparo de uma peça preferida, que parecia não ter salvação”, rememora o filho.
“Quando deixou de costurar”, diz ele, “doava-se tanto, cuidava tanto que se esquecia de si mesma ou achava que poderia carregar o mundo em suas costas”.

Foi uma “avó coruja, amando cada neto à sua maneira”, prossegue o filho.

O amor de Francisco pela mãe se traduzia num carinho intenso e bem-humorado: “Brincava demais com ela. Seu pavor de aranhas causou boas risadas com o filme ‘Aracnofobia’. Às vezes eu a surpreendia: lambia seu rosto só para ela dizer ‘Para, seu porco!’ e, logo em seguida, escutar sua risada de agonia da sensação”. E, para dar mais vazão a tanta ternura, Francisco gostava “de beijar o alto de sua cabeça e abraçá-la com força”.

Maria nasceu em Quixeramobim (CE) e faleceu em Mauá (SP), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Maria, Francisco Alexandre Macedo. Este tributo foi apurado por Carla Cruz, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Joaci Pereira Furtado e moderado por Rayane Urani em 23 de agosto de 2020.