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Maria Edma Benetti Pereira

1942 - 2020

Matriarca geniosa, de alma curiosa e vaidade de mulher.

Maria Edma, a Vovó Bibi, foi esposa, mãe, avó e bisa. De temperamento forte e riso solto, a matriarca da família é lembrada pelo amor que emanava por onde passava.

Em vida, teve duas grandes paixões: sua família e Arlindo, seu grande amor. Homem de sorte, foi amado como poucos são; por Maria, ele foi completamente apaixonado. Mesmo viúva há mais de 20 anos, ela ainda mantinha a aliança no dedo. O amor dos dois rendeu muitos frutos.

Mãe de cinco, avó de 11 e bisavó de cinco, Maria amava ter a casa cheia e estar rodeada pelas pessoas por quem daria a vida. Quem chegava para visitá-la sentia o cheirinho de bolo de longe e já se achegava com a progenitora, que estava sempre disposta a um cafezinho. Dentre seus pratos mais famosos, o macarrão com galinha caipira é lembrado com gosto especial pela família.

Aos 78 anos, Maria Edma continuava forte, tanto na personalidade quanto no físico, carinhosa e muito vaidosa! Em suas unhas, o esmalte vermelho estava sempre presente, variando em tonalidade do rebu ao vermelho vivo.
As mesmas mãos marcadas pela vaidade também produziam bordados de delicadeza ímpar. Fabricados com esmero e cuidado nos acabamentos, se tornaram relíquias afetivas para os membros da família.

Durante a vida, tornou os sonhos de familiares os seus próprios. Com a bisneta mais velha, Victoria Louise, contava os dias para a formatura da mais nova médica e sonhava acordada com esse momento.

Além da mulher geniosa, Maria Edma mostrava seu lado mais humano, mais delicado. Em seus últimos meses, aos quase 80 anos, pôde experimentar diversas primeiras vezes. Assistiu seu primeiro filme na sala grande e gelada de um cinema e comeu seu primeiro lanche no McDonald’s. Como uma criança, lambia a boca cheia de molho após cada mordida. Gostou de tal maneira que, nos meses seguintes, aproveitou para comer tanto fast food quanto possível.

Dentre as novidades, também conseguiu conhecer o mar. Diante do inédito som das ondas e do cheiro da maresia, deu seu primeiro mergulho da vida na água gelada e salgada, na companhia de um dos filhos e do genro. “Nos últimos meses, ela aproveitou muito. Estava sempre pronta para conhecer um novo lugar e experimentar alguma coisa nova”, conta Victoria.

Hoje, Maria Edma é lembrada de forma muito querida e feliz. Segue em paz após uma vida de muita luta e amor. Para a família, amigos e o cachorro Bebê, resta a saudade e a sorte de ter dividido a vida com a Vovó Bibi.

Maria nasceu em Três Lagoas (MS) e faleceu em São Paulo (SP), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido Bisneta de Maria, Victória Louise. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júlia Pontes, revisado por Daniel Schulze e moderado por Rayane Urani em 18 de agosto de 2020.