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Maria Eunice da Silva Oliveira

1962 - 2020

Tinha o hábito de apertar a mão das pessoas, como forma de demonstrar atenção e afeto.

Maria Eunice era autista e se conectava com a música de uma maneira especial. Amava cantar no chuveiro e tinha um repertório variado, que incluía Adele, Ariana Grande, Ivete Sangalo, Iza e qualquer coisa que lhe soasse bem.

Gostava bastante de rotina e comia frango todos os dias. A sobrinha Maria Luisa conta que a tia também tinha o costume de abrir a porta para as visitas e fechar o zíper da bolsa das pessoas na rua.

"Ela não entendia preconceitos sociais e talvez fosse boa demais para este mundo. Às vezes, eu penso que se os anjos envelhecessem, eles se pareceriam com ela", afirma Maria Luisa. Na sua memória, estão guardados os cabelos brancos da tia, sua pele fina e as mãos mais macias do universo.

Era uma pessoa forte e perseverante, que batalhou o quanto pôde para retornar para casa e para sua família. Deixou lembranças que irradiam amor e carinho, como se nota pela mensagem deixada pela sobrinha: "Eu guardo seus melhores sorrisos, as frases mais simbólicas e todo o companheirismo. Sinto falta dos nossos duetos, do espacinho na cama de solteiro que você dividia comigo depois que eu chegava da escola, das palavras, metonímias e nomes antiquados que só você, em 2020, ainda usava. Eu me lembro de um dos últimos dias no hospital, quando a minha internet acabou enquanto você via o dia passar pela janela e, então, cantarolei todas as suas músicas favoritas até anoitecer".

E assim, Maria Luisa expressa toda sua gratidão por ter tido a oportunidade de ter a tia Maria Eunice por perto.

Maria nasceu em Irituia (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Maria, Maria Luisa Oliveira Santos. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Larissa Reis, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de abril de 2022.