1940 - 2020
Cantora e dançarina de destaque nas festas de família, sabia de cor versos e músicas que aprendera na infância.
Maria Francisca foi cozinheira, manicure, cabelereira e confeiteira; trabalhava em casa, e assim conseguiu conciliar o trabalho com os outros tantos afazeres domésticos. Sua paixão mesmo era cozinhar. Sempre levou a arte da culinária como profissão, mesmo quando preparava um almoço simples para a família: a tradicional macarronada de domingo.
Teve uma infância pobre e muito sofrida, trabalhava na roça desde os sete anos plantando algodão e arroz. Seu apelido era Losa, dizia que era porque quando bebê era muito cheirosa. De tanto ser chamada de cheirosa por uns — e de de "cheilosa" por outros, seus irmãos acabaram apelidando-a de Losa. Sempre foi uma mulher vaidosa; constantemente mantendo os cabelos arrumados, as unhas feitas e a pele perfumada.
Nas horas livres, além de cozinhar as receitas preferidas das suas netas, como uma boa vovó daquelas que a gente vê nas histórias, ela também gostava de cantar. Cantava muito as músicas que marcaram a sua infância e juventude. Cauby Peixoto era um dos favoritos. "Eu adorava ouvi-la cantar, e de tanto ouvir, acabei aprendendo todas as músicas também", lembra a neta Bruna Ferrari, sempre muito próxima da avó. Bruna estudava em São Carlos, mas morava parte do mês com a avó. Outra coisa que ela gostava muito de fazer era de recitar os versos que aprendera ainda criança na escola. Sua memória era incrível, ela lembrava cada frase, cada palavra dos versinhos e recitava-os com um brilho nos olhos de dar gosto. "Parecia que voltava a ser criança naqueles momentos".
Na família, era conhecida como a Tia Losa. Tinha mais de 20 sobrinhos e costumava dizer: "sou muito amada, sou muito querida." E era mesmo. Quando viajava para o interior de São Paulo para visitá-los, chegava sempre cantando, abraçando e beijando todo mundo, ela era muito carinhosa. "Nunca desligava o telefone sem dizer eu te amo", recorda a neta.
Uma das partes mais bonitas da sua personalidade era o quanto ela gostava de aprender. Quando chegou a era da internet ela logo fez questão de aprender a utilizar os equipamentos eletrônicos. Era uma usuária assídua de aplicativos de mensagem e redes sociais. Acompanhava a vida de todos os sobrinhos pelas redes e estava sempre aprendendo algo novo.
Ela foi casada com Pedro Ferrari, o Bem. "O amor deles era mesmo igual a esses de novela. Não se desgrudavam um segundo, sempre preocupados um com o outro, sempre cuidando um do outro, mas sempre brigando também", conta Bruna aos risos. "Depois que o Bem faleceu, ela não passava um dia sequer sem falar dele, sem contar a história do primeiro beijo, da caixinha de música e das alianças". Ela teve apenas uma filha, a Tania Queli Ferrari. A Tania nasceu muito pequena e logo o Bem e a Losa a apelidaram de Quito. Era quito de Tiquito, porque ela era mesmo um tiquinho de gente.
Uma imagem memorável que fica é de Losa divertindo-se nos encontros de família; cantando e dançando as músicas da juventude, recitando os versos da infância e cozinhando para todos que amava. A sua maior virtude era sua alegria de viver, a forma positiva como sempre conseguia a vida. "E eu acho que é assim que ela gostaria de ser lembrada: como uma pessoa que tinha paixão pela vida", resume a neta.
Maria nasceu em Batatais (SP) e faleceu em Santo André (SP), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Maria, Bruna Ferrari Pereira . Este tributo foi apurado por Katarini Miguel, editado por Ana Macarini, revisado por Walker de Barros Dantas Paniágua e moderado por Rayane Urani em 30 de setembro de 2021.