1937 - 2020
Tinha o hábito de cantarolar enquanto lavava roupas, e foi assim que ensinou à filha os cânticos de sua fé.
O cuidado que alguém é capaz de dedicar pode ser percebido em pequenos detalhes. Unhas sempre bem feitas, mesmo com um trabalho diário na área de limpeza, que não costuma ser muito suave para as mãos. Pois todos se admiravam com as mãos sempre bem cuidadas de dona Haydee.
Muitas vezes, também, os cuidados pessoais – com as próprias mãos, por exemplo – sinalizam uma capacidade ainda mais ampla de zelo e atenção. “Assim foi minha mãe: uma pessoa que se doou sempre para o próximo”, diz a filha Pulquéria.
Apaixonada pela dra. Zilda Arns, Maria Haydee acabou por também dedicar muito de sua vida à Pastoral da Criança. Aos sábados, trabalhava nas "quentinhas", como chamava as marmitas que preparava com carinho para pessoas em situação de rua. Os domingos eram reservados às missas. "Ajudou muitos casais em sua união, ensinando a rezar o terço em família”, conta a filha.
Talvez sua motivação viesse da consciência de que esse cuidado é simplesmente necessário, de que somos todos interdependentes. Maria Haydee viveu, ela própria, uma infância de privações e criou oito filhos, muitas vezes deixando de se alimentar para garantir o sustento das crianças. Depois que todos cresceram fortes e expandiram a família, ajudou a criar os netos.
"Minha mãe gostava muito de cuidar da casa, porém não gostava de cozinhar, coisa que descobrimos apenas por volta de seus 70 anos”, observa a filha.
Diagnosticada com Alzheimer na velhice, um dia foi ao hospital e não voltou para casa. De onde estiver, certamente segue cuidando dos seus. "Dona Haydee, mulher de fibra. Mãe, descanse em paz”, despede-se Pulquéria.
Maria nasceu no Crato (CE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Maria, Pulquéria Aparecida dos Santos. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Tatiana Natsu, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 29 de dezembro de 2020.