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Maria José Magalhães

1957 - 2020

Deficiente visual desde que nasceu, não perdia um capítulo das novelas e amava colecionar vestidos.

Mazé — assim era chamada por todos. Ela e sua irmã Maria da Conceição, a Ceição, moravam juntas e ambas eram deficientes visuais. Cada dia da semana, um dos irmãos — que são oito — estava lá para ajudar e fazer companhia para as duas.

"Ela via a vida de forma diferente, mas nunca reclamou por não enxergar", conta o irmão, Luiz Rodrigues Magalhães.

Ela era a base daquele lar. Dava banho na Ceição e escolhia qual vestido cada uma usaria. Aliás, ela decorava quais eram os seus, de acordo com o modelo e as cores que haviam falado para ela. Tinha um apreço enorme pelos vestidos. "Ai da Ceição se, por descuido, pegasse um vestido de Mazé pra usar!", conta a sobrinha Fernanda.

Era carinhosa e ficava numa alegria só quando segurava um sobrinho ainda bebê no colo.

Fernanda e Luiz lamentam a forma como ela se foi: "Devastou por completo nossos corações. Quando poderíamos imaginar que uma pessoa completamente indefesa, sempre muito forte e que esbanjava saúde, partiria assim?"

"Sempre que bater uma tristeza ou motivos pra reclamar da vida, lembrarei do seu sorriso levado, igual ao de uma criança sem maldade nenhuma pro mundo, e da sua maneira de enxergar com o coração. Você foi Luz, Mazé. A família Magalhães sempre terá orgulho de você. Descanse em paz, minha tia, meu amor", diz Fernanda.

Maria nasceu em Barras (PI) e faleceu em São Paulo (SP), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos familiares de Maria, Fernanda Magalhães Machado e Luiz Rodrigues Magalhães. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 11 de novembro de 2020.