1954 - 2020
Com seu esforço e já adulta aprendeu a ler e a escrever, pois sempre manteve a fé em um futuro melhor.
Para uma disciplina acadêmica no ano de 2018, Adriana, a filha caçula de Dona Lúcia, realizou uma tarefa que considerou a mais difícil de todas: resumir a vida de alguém em um único parágrafo. Na ocasião, ela o fez com a história de sua própria mãe.
Para ela, escrever sobre a mãe é como diz uma estrofe da música de Belchior:
"Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa"
O tempo passou e ela continuou considerando difícil definir em palavras a grandeza de sua mãe, ao afirmar: “Mesmo que eu queira contar a todos como ela era, não teria sequer um vislumbre da grandiosidade que cabia em seu ser. Palavras seriam incapazes de descrever com exatidão toda a força, todas as experiências vividas, o legado que deixou para os descendentes, o amor, a sabedoria...”. Mas um trecho extraído de seu trabalho nos permite conhecer um pouco de Dona Lúcia.
Filha de agricultores cearenses, ela saiu muito cedo de Itapiúna, a cidade onde nasceu, deixando para trás a vida na lavoura. Carregava dentro de si a certeza de que, por mais que a vida seja dura, devemos seguir em frente conservando a fé no futuro e a esperança em tempos melhores. Trabalhando na capital, foi só bem mais tarde, com seu próprio esforço e já adulta, que aprendeu a ler e a escrever.
Casou-se com Raimundo Joaquim, seu companheiro até que a morte dele os separou e ela se tornou o pilar da família durante os dez anos de sua viuvez. Foi mãe de quatro filhos e avó de seis netos, e se tornou uma matriarca que sempre deu muita força a todos os seus descendentes.
Com muita gratidão à vida por ser filha de Maria Lúcia, Adriana afirma: “Minha mãe não foi apenas mais uma das vítimas da Covid-19. Ela era um universo inteiro. E, onde estiver, sei que continua evoluindo como espírito, e aprenderá novas lições. Eu sigo em frente, ouvindo nossa música favorita:
Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei"
(Almir Sater e Renato Teixeira)
Maria nasceu em Itapiúna (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha caçula de Maria, Adriana Cruz da Silva. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 19 de novembro de 2021.