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Maria Patrocinia de Moraes

1935 - 2020

Todos os filhos, netos e bisnetos se sentiam “o preferido” dela, tão grande era a sua capacidade de amar.

Para quem não a conheceu, apresento Dona Maria, mulher, mãe de 18 filhos concebidos e de outros que criou com igual amor, presentes que vida lhe deu. Mesmo tendo uma quantidade incontável de netos, netas, bisnetos e bisnetas, sabia os gostos de todos, um a um. E o mais curioso é que todos se sentiam “o preferido” ou "a preferida" dela devido à sua enorme capacidade de amar.

Adorava comer pamonha e sempre que possível, Lydio, seu marido, chegava com uma. Mesmo tendo que compartilhar entre tantos, sem que por vezes sobrasse para ela, não reclamava. Dona Maria era uma exímia professora na arte de dividir e multiplicar.

Apaixonada por crianças, seu amor transbordava todas as vezes que sabia do nascimento de um neto ou bisneto. Era capaz de sentir a alegria mais genuína, como se recebesse tal notícia pela primeira vez, como se revivesse o nascimento do primeiro filho. Que grande amor era capaz de sentir e com ele envolver a todos!

Mulher de fé inabalável, mesmo com as adversidades da vida, seguiu firme. “Quando meu pai faleceu, disse a ela: ‘Maria, segura a peteca!’. E foi o que ela fez, enquanto pôde”, relembra Renato, um de seus filhos, com orgulho.

Aos 85 anos, hipertensa, cardíaca, diabética, com problemas renais, não seria de estranhar que Dona Maria seguisse firme e esperasse que seus familiares se curassem da Covid-19 para que ela pudesse seguir tranquila. “Ela deve ter pensado em todos nós: ‘O mundo inteiro está sofrendo, vou aproveitar o momento para que o impacto não seja pesado para meus filhos e netos’”, contou o filho, conhecedor da grandiosidade de sua mãe.

Com uma trajetória tão linda, apesar da saudade, a família consegue não se desesperar, não se entristecer, devido à grande segurança e fé que Dona Maria transmitiu em vida. “É um pouco estranho festar com saudade, que já bate forte, é estranho se alegrar com a vitória sobre a morte física. Essa é nossa fé”, explica Renato.

Dona Maria renasceu para a nova vida, encerrou sua missão na terra e foi para “a morada”, aquela que Jesus disse que prepararia com a sua ida para receber os que viessem depois. Para a família, Dona Maria está junto de seu marido, Lydio, deixando tudo arrumadinho para o momento de receber os seus, como sempre amou fazer.

Assim como os demais, Renato também se considera o preferido dentre os preferidos de Dona Maria. “É assim que me sinto até hoje”, conta. E talvez seja a verdade, assim como também é para cada um dos outros filhos, netos e bisnetos, pois Dona Maria foi a prova viva de que o amor vem de fonte infinita, capaz de alcançar a todos de modo único.

“Tenho muito orgulho dela. Somente gratidão a Deus por ter sido gerado e criado por essa mulher. Descanse em paz, minha mãe”, é a mensagem emocionada de Renato, filho de Dona Maria.

Maria nasceu em Bella Vista Norte (Paraguai) e faleceu em Campo Grande (MS), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Maria, Renato Rodrigues de Moraes. Este tributo foi apurado por Jonathan Querubina, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 20 de agosto de 2020.