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Maria Raimunda Silva da Anunciação

1954 - 2020

Bastava olhar para a lua e as estrelas que vinha a vontade de conversar sobre o mistério da vida.

Amar a vida era sua grande vocação. Tantas foram suas lutas contra o câncer de mama, que muito provavelmente Maria Raimunda ainda sorriria sem motivo e vivendo um dia de cada vez, por muitos anos, com bom humor e muita alegria, não fosse a Covid-19. Essa era sua marca: alegria!

Se havia um presente que amava receber, era flor. As cores, formas e cheiros lhe enchiam a alma de energia que nutria os sonhos de um dia ter “uma casa com um lindo e amplo jardim, uma hortinha e muitas flores”, conta sua filha Diana.

Apaixonada pela única neta, Beatriz, Raimunda não tinha limites no coração. Com ela viveu momentos de muito afeto, aprendeu ainda mais sobre o amor que sempre teve por seus dois filhos. Para Beatriz doou muito do seu tempo e energia, sua participação na criação da netinha foi fundamental.

“Todas as noites ficava na varanda, contemplando a lua e as estrelas e conversando sobre os segredos do universo e o mistério da vida”. Só uma pessoa muito especial como ela podia sair do chão e viajar pelas fronteiras do infinito. Talvez fosse de lá que viesse a energia que transbordava em seu coração.

Na cozinha, Raimunda era inigualável, tinha um tempero que conquistava todas as bocas. “Fazia bolos e doces maravilhosos”, diz a filha. Seu grande prazer era ver as pessoas apreciarem o alimento que preparava com carinho e dedicação. Amava cozinhar!

O café era outro combustível que a recompunha para a lida diária. “Nunca ficava sem tomar café”, conta Diana.

Raimunda estava sempre de coração aberto e mesmo sem gostar muito de cachorros, um dia surpreendeu a filha apaixonando-se pela Minnie, a cachorrinha que passou a fazer parte da família e a ser companheira inseparável de Raimunda. Sempre havia um lugar no colo dela e entre suas mãos cheias de ternura.

“Fez de tudo por nós! Nos ensinou valores, princípios e nos fez ser bem sucedidos”, conta a filha. Raimunda acreditava que o estudo era a única forma de pessoas simples e humildes alcançarem alguma coisa na vida.

Sua fé em Nossa Senhora de Fátima se expressava no terço, que rezava às 18 horas, todas as noites, acompanhando pela TV. Eram momentos de contrição e devoção, sempre um ato de muita fé e amor que compartilhou com as muitas pessoas que ajudou. “Seu coração era lindo!”, diz Diana.

Raimunda deixou muita saudade, mas sua presença permanece no coração dos que a amam. É mais uma estrela a brilhar no céu e a contar sobre os mistérios da vida.

Maria nasceu em Ilhéus (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Diana Anunciação Santos. Este tributo foi apurado por Thyago Soares, editado por Míriam Ramalho, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 20 de setembro de 2021.