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Maria Santana de Moura

1940 - 2020

Ela soube empregar sua habilidade como artesã para viver bem e criar uma bela família.

Baiana de Pindobaçu, ela nasceu em uma família numerosa: nove irmãos, sendo dois homens e sete mulheres. Filha de Aurelina e Euzébio; quando o pai faleceu Maria tinha apenas 16 anos. Estudou até o quarto ano e, mesmo com esse pouco conhecimento escolar, chegou a dar aula para crianças pequenas que viviam em um sítio próximo de onde ela morava.

Aos 18 anos mudou-se para São Paulo com uma de suas irmãs para tentar melhorar de vida. Rapidamente, conseguiu trabalho em uma casa de família. Passado algum tempo, já com 23 anos, conheceu Luiz Fernandes, um cearense de Iguatu, que também chegou a São Paulo com o mesmo propósito de melhorar de vida.

Namoraram e, em menos de um ano, se casaram. Da união, vieram quatro filhos: Tânia, Sandra, Alexandre e André, filhos que Maria amava de todo coração. Mesmo trabalhando fora para ajudar no sustento do lar, fazia o que podia por seus descendentes: além dos filhos, teve cinco netos, Barbara, João Lucas, Maria Vitória, Lavínia e Otávio; e quatro bisnetos, Izadora, Bryan, Maitê e mais outro bebê a caminho. Os últimos três, infelizmente, ela não chegou a conhecer. Gostava de ter todos sempre por perto!

Vó Maria foi mulher, esposa, mãe, avó, bisavó e amiga maravilhosa. Durante a vida, frequentou de terreiros de Umbanda a templos budistas, mas encontrou-se na Doutrina Evangélica, onde tinha uma rotina de muita devoção, indo à Igreja pelo menos três vezes por semana até quando pôde.

João Lucas, um de seus netos, gosta de partilhar os aprendizados que teve com a avó: “Dona Maria me ensinou a amar e a fazer o possível pelas pessoas, mesmo quando não se tem retorno. Ela me ensinou sobre entrega. Me ensinou também o que é ser uma pessoa língua de trapo e vivia dizendo que eu era muito. Sempre sorrindo, sempre acreditando, sempre a serviço. Vó Maria me ensinou o que é se colocar a serviço”.

E fala das suas lembranças de infância: “Eu entrava debaixo das saias dela quando criança. Ela queria me matar! Corria atrás de mim, me dava uns beliscões, mas não adiantava, eu sempre voltava a fazer a mesma coisa. A gente passeava, ia junto à igreja de crentes, dávamos muitas risadas. Ajudei na mudança dela de casa, quando pela primeira vez na vida foi morar sozinha”.

Logo após seu casamento Maria, que era uma artista nata, profissionalizou-se como bordadeira e trabalhou por muitos anos em uma empresa de bordado em tecido. Amava trabalhos manuais. Além dos bordados, fazia pinturas, crochês e costuras, mas o que ganhou com eles não foi suficiente para realizar o seu maior sonho: ter sua casa própria.

Maria era uma mulher de muita alegria! Gostava de conversar, passear, dançar, brincar. Não tinha uma pessoa que não gostasse dela. Era amiga, acolhedora, em sua casa sempre cabia mais um. Ajudou muitas pessoas, sem pensar em receber nada em troca.

Ela será lembrada para sempre!

Maria nasceu em Pindobaçu (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo neto de Maria, João Lucas Moura da Silva. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 19 de outubro de 2022.