Sobre o Inumeráveis

Marinalva Moura de Sousa

1955 - 2020

Um gesto, uma frase de apoio, um suco à espera da família... peculiares jeitos de amar dispensam palavras.

Uma mulher batalhadora, que trabalhou em muitas coisas nessa vida, mas a que mais marcou, foi como cobradora de ônibus.

Teve quatro filhos, 17 netos e sete bisnetos. "Sou a filha mais velha e fui criada pela minha avó, desde o nascimento. Só entendi que ela era minha mãe, no fim da infância. Sua paixão era o filho caçula e ela sempre deixou isso explícito. Amava todos, do seu jeito, mas não gostava de demonstrar", diz Erivalda.

Sua filha conta que, nos seus 13 anos, teve tétano e ficou alguns dias em coma. Quando voltou para casa, tem viva a lembrança de que a mãe lhe deu de presente um pente amarelo, com uma maçã desenhada. Erivalda confessa: "Nunca esqueci esse gesto".

Uma característica, que faz todos lembrar de Marinalva com sorrisos nos lábios? A qualquer hora que se chegasse à casa dela, haveria pronta uma jarra de suco, sempre.

Nos finais de ano, ela gostava de presentear os netos mais próximos com lembrancinhas. Infelizmente, ela não tinha a oportunidade e o prazer de estar com alguns deles, devido à distância.

Soube ser uma mãe, irmã, filha, amiga sempre pronta a ajudar e a amar... Do jeitinho dela.

Seu maior defeito era o vício do cigarro. Foi fumante por toda a vida. Além disso, sempre esteve acima do peso, o que trouxe algumas complicações de saúde, inclusive um grave problema de circulação.

"Tivemos uma conversa marcante cerca de três meses antes dela partir. Contei a ela que meu esposo havia sofrido um acidente, no qual ficou tetraplégico. Sua resposta foi: 'Tu é forte, menina!' Ainda não sei bem se ela tinha razão, mas continuo resistindo. Passei por essa situação com meu esposo, perdi minha avó-mãe, em seguida minha mãe e meu sobrinho, tudo em sequência. É como Deus quer, nada é nosso", relata a filha.

Marinalva nasceu no Recife (PE) e faleceu no Recife (PE), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Marinalva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Erivalda Moura, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de julho de 2020.