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Mário Belém de Almeida

1926 - 2020

Antes de se aposentar, almoçava às 11h e gostava de contar piadas deitado na rede com a neta.

Tinha muita história para contar...

Trabalhou "nos interiores" do Pará e por isso vinha para casa só de vez em quando. Às vezes, vinha uma vez por mês; noutras, devido ao trabalho ficava meses sem aparecer.

Quando vinha, era um dia de festa, “era o dia em que eu colocava minha melhor roupa, fazia penteado no cabelo, sentava no pátio e esperava ansiosamente pelo barulho da Kombi dobrando a rua de casa. Era ele, vovô chegou. Abre portão. Chama a vovó. Toma bença. Abraça. O dia era feliz!... ele é o meu amor, o meu herói, o meu refúgio desde pequenina”, diz Aurea.

Seu Mário, Seu Belém, Senador... tinha vários apelidos. Era um homem simples, que gostava de jogar baralho, de ler jornal e de contar piadas.

Os anos se passaram, ele parou de trabalhar, venceu um câncer, venceu uma cirurgia de catarata malsucedida e ainda, uma fratura de fêmur aos 92 anos. Isso tudo fez com que sua casa tivesse que ser toda adaptada para a vida que ele adquiriu ao longo do tempo.

Tinha as manias de gente idosa, uma implicância com a filha Benedita... um paparico com outra filha. Tinha umas risadas escandalosas do nada. Ele tinha a Isa, que cuidava dele como se fosse o pai dela. Tinha a Cristina que a paciência era de Jó, e tinha também suas netas, netos, bisnetas e bisnetos... todos cuidaram dele. Cuidaram muito bem dele.

Viveu com o amor da vida dele até o último dia de sua vida, sem chance de despedida, sem chance de um adeus. Ele não é mais um número. Ele é o amor de muita gente e vai fazer muita falta, mas todos sabem que ele está num lugar melhor.

Mário nasceu em Capanema (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 93 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Mário, Aurea Emanuele Almeida Maciel. Este tributo foi apurado por Marcelo Dettogni, editado por Alessandra Capella Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de julho de 2020.