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Mario Rezende Florence

1951 - 2020

Amoroso, ele abraçava por inteiro; dentro dos seus braços o mundo era aconchegante, seguro e quentinho.

Mario experimentou a vida intensamente, viveu cada experiência como se fosse única. Dava muito valor à vida e às memórias, se divertia demais com os pequenos e com seus grandes feitos. Costumava dizer que, quando chegasse o fim de sua jornada - sentado no banco da praça de sua cidade Natal - Novo Horizonte, ou como carinhosamente chamava: a capital do universo - e perguntassem se sua trajetória valeu a pena, ele responderia: "Valeu MUITO a pena." Dava ênfase ao 'muito', para não haver dúvidas, e brincava citando a música de Frank Sinatra "I did it my way".

"Meu pai era um auto léxico ambulante, tinha um vocabulário muito próprio e peculiar. Nos divertia sempre com as palhaçadas e suas histórias, para ele eram estórias.", conta a filha Isadora.

Divertido e fanfarrão, sagitariano legítimo, alegrava todos ao redor e a si mesmo. Se divertia com tão pouco e com muito na mesma medida, acho isso uma dádiva. "Ele era extremamente carinhoso com todos. Foi deveras apaixonado por tantos. Fez muitas pessoas felizes demais. Acho que nunca ouvi meu pai dizer que não gostava de alguém, honestamente", reflete a filha.

O time de sua cidade, Novo Horizonte, fez uma homenagem a esse novo horizontino, que está afixada no estádio pra sempre, de tão amado que foi e ainda é. "Isso é algo intenso e belo, sempre soube o quanto meu pai foi querido, nunca tive dúvidas disso. Isso é extremamente belo."

Mario e Cristiane - madrasta de Isadora - foram muito felizes, se amaram demais. Foi um amor lindo de acompanhar. Um amor maduro, mas fanfarrão. "É incrível ver quando pessoas encontram o amor mais velhas. Meu pai tinha 60 anos quando se casou novamente. E gostou tanto que casou três vezes com ela ao longo desses oito anos." Foi um padrasto muito carinhoso e ensinou o mundo pra Laurinha e Lulu, filhas de Cristiane. Apresentou todo um novo horizonte de possibilidades para elas.

"Meu pai e meu avô materno eram apaixonados um pelo outro - mesmo com a separação de minha mãe tendo acontecido cedo, quando eu tinha dois anos e meio. No hospital, minha madrasta perguntou para ele qual a pessoa que ele mais gostava no mundo. Ela diz que ele parou, olhou para ela, pensou e disse: 'seu Heitor'.

Isadora finaliza a homenagem com um lindo testemunho: "As perdas partilhadas por meio das histórias, trazem a possibilidade de garantir que não foi em vão. Não foi e nunca será. Devemos nos cuidar por eles que se se tornaram encantados, e por nós que seguimos a jornada."

Mario nasceu em Novo Horizonte (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Mario, Isadora Brazil Florence. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Helenize Gaudereto e Ana Macarini, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 30 de novembro de 2021.