1949 - 2020
Gostava tanto de cuidar, que depois de criar seus filhos, foi ser professora. Seu xodó sempre foram as crianças.
Marisa era curitibana, do bairro do Batel. Ela e o irmão, órfãos de pai, foram criados pela avó e pela mãe, a quem precisavam dedicar cuidados específicos por conta de um acidente que tirou sua mobilidade.
Na adolescência, sua diversão eram os bailes do Clube Batel e as matinês do Cine Avenida, no centro da cidade, sempre acompanhada pela avó. Wilson, assíduo frequentador das mesmas salas de cinema, já andava de olho em Marisa quando, por acaso ou por destino, encontrou com ela em uma sessão de um centro espírita kardecista em outro bairro, distante dali. Bastou a primeira conversa, e o namoro começou logo em seguida. Ele percorria longos trechos a pé para as visitas diárias à casa da nova pretendente. Nada o impedia de estar com a amada. Já querido pela família da namorada, a sogra arranjou-lhe até um emprego na companhia de saneamento da cidade.
Dois anos depois, Marisa e Wilson estavam casados. Viveram uma linda história em uma união que durou cinquenta e quatro anos e, nas contas dele, um total de 19.273 dias de feliz convivência.
A vida que tiveram juntos trouxe bons e lindos frutos: os filhos Júlio, Lincoln e Janaina, seis netos e quatro bisnetos. Marisa fazia o possível e o impossível, não só por sua família, mas pelas crianças da vizinhança também. Amava cuidar dos outros. Com a prole já criada, resolveu prestar um concurso público para trabalhar na Educação Infantil. E deu tão certo, que ela permaneceu na ativa em sala de aula por vinte anos. Só se aposentou devido a um acidente, no pátio da escola. “Muitos eram os ex-alunos que a reconheciam na rua, anos depois”, relembra a caçula Janaina.
Marisa era tão forte, que nem mesmo o transplante de fígado em função de um câncer, a desanimou; ao contrário, deu-lhe forças para fazer o que mais gostava: estar com os seus.
Na rotina, vivendo sempre na mesma casa, Janaina e o filho Matheus também eram companhia frequente para a mãe. Mas sua alegria mesmo era preparar as reuniões familiares, com todos à sua volta, para cozinhar e agradar especialmente aos netos e bisnetos. Estar com a criançada, sempre foi seu grande prazer.
Marisa só ficou abatida quando perdeu, precocemente, o filho Lincoln, levado pela Covid-19 e teve muita dificuldade em aceitar a inversão da ordem natural que a vida lhe apresentou. Conheça a homenagem a Lincoln Robson Dezenciol publicada neste Memorial.
De Marisa, a família guarda as melhores lembranças!
Marisa nasceu em São José dos Pinhais (PR) e faleceu em Curitiba (PR), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Marisa, Janaina Roberta Dezenciol. Este tributo foi apurado por Malu Marinho e Fabiana Colturato Aidar, editado por Fabiana Aidar, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 24 de junho de 2021.