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Marlene Almeida de Andrade

1937 - 2020

Carismática, seduzia a todos com sua doçura. Só não admitia que atrapalhassem suas orações, ou sua novela.

Dona Marlene e o seu Eth queriam deixar claro que iam estar sempre juntos e, por isso, o nome de todos os filhos começam com Ma e terminam com Eth: Marileth, Marlieth, Margareth, Marveth, Marleth e Maerth.

Dona Marlene perdeu seu Eth pelo caminho, mas não perdeu a mania de cativar qualquer um que a conhecesse em apenas dois segundos. Um recorde, sem dúvida. E com mais tempo de conhecimento, só melhorava, pois descobria-se uma senhora amável, acolhedora, risonha e doce, não importando o momento. Um dom.

Cumpria, diariamente, e com fervor, seus dois rituais inadiáveis: assistir novelas e orar. Às vezes, perdia-se em sonhos, sentada no sofá; mas, apesar dos filhos pedirem a ela para ir se deitar, jamais entregava os pontos: “não estou dormindo, não”, dizia. E quem havia de duvidar que não estivesse apenas de olhos cerrados, concentrada em suas orações? Dona Marlene era mulher de opinião forte e se acreditava que não estava dormindo, o assunto estava encerrado.

Mar e Eth voltaram a se encontrar lá em cima. Mas continuam juntos aqui embaixo também, não apenas no nome, mas também no coração de cada um dos filhos e netos.

Marlene nasceu em Pernambuco e faleceu no Recife (PE), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Jornalista desta história Fabio Victoria, em entrevista feita com neta Erica Andrade Lime, em 20 de julho de 2020.