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Marta Beatriz de Souza

1946 - 2020

Abriu uma creche para que as crianças ficassem aos seus cuidados, enquanto os pais da vizinhança saíam para trabalhar.

Marta viveu a generosidade como missão de vida. Casou-se com Saturnino na juventude e permaneceu com o amado até 2010, quando ficou viúva. Criou quatro filhos e foi a amorosa avó de sete netos. Sempre reconhecida como uma mulher forte, que trabalhou para ter sua independência financeira, deixou esse exemplo para as mulheres da família. Fez trabalho doméstico por muitos anos na casa de um médico, trabalho esse que ela tinha orgulho de ter exercido para criar os filhos.

Nasceu para fazer o bem. Foi dona de uma creche que acolhia crianças que não tinham com quem ficar, enquanto os responsáveis trabalhavam. Cuidou também da neta Graziele para que sua mãe pudesse trabalhar. A neta lembra com carinho de ser recebida de manhã cedinho pela avó que lhe fazia tranças e levava para a escola, e de só retornar para casa dos pais à noite.

Da vivência com a avó, Graziela lembra dos seus cuidados com ela e com as demais crianças, e do hábito da avó de cantarolar “eu sou pobre, pobre, pobre de marré desci...”, enquanto lavava roupa. A neta tem a lembrança de que nessa época, ainda criança, prometia para si mesma que haveria de ter melhores condições financeiras no futuro para ajudar a querida avó. Quando Grazi tirou a carteira de habilitação foi muito marcante para avó. “Eu sempre a levava para passear ou às consultas médicas de rotina; era a maneira que eu tinha de retribuir os cuidados dela comigo”, lembra a neta.

Não havia uma pessoa pobre que não encontrasse na porta de Marta o acolhimento para suas necessidades. De moradores de rua a outros desconhecidos, que batiam à porta para pedir algo para comer, ela doava o que tinha. Os filhos e netos achavam perigoso ela atender a porta à noite; mesmo assim, ela o fazia, com generosidade e amor. A caridade era como um dom que ela partilhava. Seus familiares reconhecem essa característica como o que fez de Marta alguém tão especial no plano terreno. Uma mulher doce e encantadora, de olhar sensível, puro e inocente. Alguém que amou e foi muito amado.

Da juventude veio a beleza, que se destacava; e a vaidade, que manteve até o fim. Com toda certeza a mais bela de todas. Gostava de se gabar de sua beleza e juventude, dos longos cabelos e vestidos rodados. Cabelos brancos? Jamais foram aparentes! Cada instante valeu a pena viver. Divertia-se assistindo a novelas. Sabia de todas que estavam no ar. E amava ouvir as músicas que o marido dedicava a ela quando mais jovem.

O exemplo e a força de Marta foram inspiração para a neta: “Eu sou muito grata por todos os momentos e lições; sou grata por ter me tornado alguém com valores; por ser a primeira da família a ter um diploma universitário; formei-me em Fisioterapia e ela me ajudou nessa conquista. Foi por ela, foi para ela, continuar sentindo orgulho de como cresci e a forma que ainda estou aprendendo e crescendo”.

Que a beleza física e espiritual de Marta inspire e encha de coragem, determinação e solidariedade a todos que vivenciaram a sua linda história de vida.

Marta nasceu em Lages (SC) e faleceu em Lages (SC), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Marta, Graziele de Souza Justino. Este tributo foi apurado por Denise Stefanoni, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 10 de março de 2022.