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Martimiano Martins Constantino

1944 - 2020

Tinha orgulho de ser motorista, dirigia sua Pampa feliz em colecionar histórias em cada viagem.

Aos 25 anos, passou no concurso da prefeitura da Serra, Martimiano amava dirigir e foi como motorista de ambulância, que começou a traçar seu caminho na profissão. Era um trabalho de 24 horas de atendimento e ele estava sempre pronto para amparar quem precisasse dos seus serviços. Dirigir era sua segunda esposa e logo ficou conhecido pelo apelido de "Martins da Ambulância".

Por alguns anos, transportou pessoas que faziam hemodiálise. Ia de casa em casa prestar o auxílio completo para os pacientes, cada um de seus passageiros era tratado com muito amor.

“Quando eu tinha 17 anos, lembro de um menino que estava precisando de transplante de rim. No meio da madrugada, surgiu um órgão compatível; mas na casa do menino não tinha telefone, então, meu pai saiu de casa às 2 horas da manhã e foi na casa do menino para avisar. Ele contava, com muito orgulho, a história desse dia”, relembra Ilma, sua filha.

Não era de muito abraço e beijo não, tinha personalidade forte e fama de durão, mas carregava um coração enorme que demonstrava seu amor em preocupação e atenção, se algum filho estivesse doente ia fazer um suco, comprar remédio ou qualquer coisa que precisasse, ele fazia o impossível para ajudar.

Para ele, o estudo era tudo. No ensino médio, Ilma fez estágio e precisava acordar às 5 horas da manhã; Martimiano, já divorciado, passou a morar em uma casa que não tinha telefone, por isso, todos os dias ele caminhava até o orelhão mais próximo e ligava para acordar Ilma para que ela não perdesse a hora. Ela conta que quando completou sua graduação, o pai estava de pé, aplaudindo sua conquista, com os olhos brilhando em um sentimento de dever cumprido e orgulho em ter uma filha formada.

Ficou bravo quando teve que se aposentar, não queria ficar parado, Martimiano era das ruas, sua alma era o movimento. Um dos maiores amores de sua vida foi sua Pampa velha; um carro que ele comprou baratinho porque só tinha carcaça, foi amor à primeira vista, nem se incomodou com o exterior, Martimiano montou a Pampa com tanto carinho, colocou motor, pintou, lavou... era um chamego com o carro! Ele dizia até que a Pampa conversava com ele, avisava quando ia quebrar para que pudesse preparar o conserto com antecedência. Com a Pampa, começou a fazer frete para o povo da cidade, carregava geladeira, fogão, móveis... tudo que dava, não fazia por dinheiro, era por amor em ajudar o próximo, pela satisfação em estar presente.

Martimiano dizia que ninguém nasce para ser árvore, em sua essência ele era águia, sempre olhando tudo por cima, renovou suas asas e levantou voo.

Martimiano nasceu em Rio Novo do Sul (ES) e faleceu em Serra (ES), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Martimiano, Ilma Dutra Constantino dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Beatriz Landi Brito, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 17 de agosto de 2020.