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Mauricio Pak Tsin Lin

1955 - 2020

Um coração generoso que ficava feliz em compartilhar bons momentos e boa comida com os seus.

Maurício era conhecido pelos mais chegados como China ou Chi.

Dono de um abraço acolhedor, demonstrava sua felicidade ao encontrar as pessoas e, com seus 65 anos, vivia o tempo todo sorrindo ou então com um semblante feliz, mesmo sem exibir os dentes, características estas que, além de terem se tornado uma herança para a filha, foram motivos de muitas piadas por parte de sua esposa.

Isso não quer dizer que ele não tinha alguns momentos de braveza como por exemplo, quando seus filhos eram crianças e faziam bagunça. China tinha uma frase mágica para fazê-los parar. Bastava ele dizer “Eu vou virar o Hulk”, que tudo se aquietava porque a criançada sabia que ele estava falando sério.

Como pai deixou fortes marcas e, de pai incrível a avô adorável foi um simples passo. Certa vez, a filha Marcela estava em um evento no Planeta Atlântida, chovia muito e o palco caiu, provocando grande desespero nos presentes que tentavam sair do local. A moça ligou para o pai e ele chegou em poucos minutos para resgatar, não só a filha, mas, também, suas amigas.

Coincidentemente, China chegou vestindo uma camiseta de Super Pai com o símbolo do Super Homem estampado no peito, tornando esse momento emblemático e sintetizando tudo aquilo que ele sempre foi para os filhos a vida inteira: Um pai com o qual se podia contar em qualquer situação.

China era muito trabalhador e muito bom no que fazia. Como vendedor atuou em várias empresas e vivia a rotina de se arrumar com esmero todos os dias antes de sair para a lida. De tanto vê-lo dando nó em suas gravatas diariamente, sua filha aprendeu a fazê-lo. Trabalhou a vida toda e, mesmo depois de aposentado, não deixou de ocupar-se até o dia em que adoeceu e foi internado.

Ele teve na vida três grandes prazeres: Comer, viajar e cuidar do seu carro.

Gostava tanto de comer que nem os sustos causados pelo seu coração o fizeram mudar os hábitos. Era daqueles que mal acabava o almoço, já estava pensando no jantar. No banquete da Páscoa já falava da Ceia do Natal.

Adorava comer fora, quando o bolso permitia. Amava camarão, guioza, bacalhau e pizza do Paparella, nunca acompanhados de bebida alcóolica porque ele não as apreciava. Seu amor pela comida fazia dele uma das melhores pessoas para indicar restaurantes que, mesmo não sendo sofisticados, serviam comidas gostosas e de boa qualidade.

O amor às viagens ele só pôde concretizar nos últimos anos de sua vida, mas isso não o impediu de se tornar um verdadeiro guia turístico para quem desejasse conhecer São Paulo, Curitiba ou Porto Alegre. Além disso, quem precisasse fazer compras na famosa 25 de Março, na capital paulista ou em Brusque, em Santa Catarina - local onde fica uma famosa feira de roupas -, podia contar com ele como parceiro.

O terceiro prazer era mais fácil de ser vivenciado, tanto que lavar o seu carro era uma tarefa que não costumava delegar a ninguém e, quando passou a usar os serviços de um lava-rápido, este se tornou o seu programa das manhãs de sábado para supervisionar a lavagem; seu carro estava sempre limpo e bem conservado.

China valorizava extremamente o tempo dedicado à sua família e cuidou muito para que esse tempo fosse o maior possível. Sonhava com o fim da pandemia da Covid-19 para poder estar com os filhos e netos; mas, quando foi atingido pelo vírus, seu coração - já enfraquecido -, não resistiu.

Resumir a vida de Maurício em palavras é uma tarefa difícil, no entanto, sua filha Marcela Lin, como jornalista e artífice das mesmas, conseguiu de forma poética expressar o amor ao pai, por meio de um Poema de Despedida:

Embora a gente saiba
Que a chegada é a partida,
Não queremos dar adeus
E nunca estamos preparados para a despedida.

Eu lamento dias perdidos
E pelo “eu te amo” que não foi falado,
Mas tempo nenhum seria o bastante
Para eu dizer o quanto tu foste amado.

Eu queria ter tido mais tempo
Para seguir contigo e te ter no meu presente,
Mas sou grata pelo passado
E não há futuro a mais que teria sido suficiente.

Eu espero que entendas
A nossa dor como saudade.
Eu espero que sintas
O nosso amor nesta eternidade.

Por mais que não estejas mais aqui,
Agora, de certa forma,
Estás em todo lugar...
E na estranheza de te carregar
De um jeito diferente,
Meu coração despedaçado
Chega até a ficar um pouco contente...

Se eu ainda consigo te sentir,
Então eu não preciso me despedir.
Eu te levo aonde eu for
Eu sei que estás comigo
Porque o que eu sinto é amor.

Mauricio nasceu Recife (PE) e faleceu Florianópolis (SC), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado Pela filha de Mauricio, Marcela Monteiro de Lima Lin Beltrame. Este tributo foi apurado por Hélida Matta , editado por Vera Dias, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 5 de fevereiro de 2021.