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Mauro Leite de Oliveira

1932 - 2020

Construiu um legado de humildade, honestidade e resiliência, sempre com um tempo para nutrir o amor à música.

Foi um homem cheio de disposição. Desde cedo buscou seu lugar ao sol, e fazia história por onde chegava. Nordestino, migrou para o Norte em busca de novas oportunidades.

Em Roraima, foi taxista, e ganhou o apelido de "Mauro mais feio" por ter o carro mais velho da frota. Com o passar dos anos, o codinome perdeu efeito. Depois de abrir a oficina São Francisco, entrou em campo a alcunha de “Mauro, o mecânico”.

Josefa era sua esposa, com quem viveu e compartilhou o amor. Fruto da relação foram os cinco filhos. Em sua pequena oficina, trabalhando e distribuindo experiências, construiu um legado que assegurou o futuro certo para os descendentes.

“Em casa, no bairro homônimo da oficina, passava as tardes com a vitrola no volume máximo, cantando sua alegria aos vizinhos e ensinando a dádiva da música. Com a maior tecnologia que possuía, gravava músicas do rádio e presenteava as fitas aos filhos e netos”, lembra a neta Ana Paula.

As décadas de trabalho lhe renderam mãos calejadas. Com a idade, veio o cansaço. O barulho dos motores já não eram mais ouvidos. As peças dos carros já não eram vistas. Por conta da saúde frágil, fechou a oficina.

“Por muitos anos depois, o velho mecânico ainda percorria o mesmo caminho a pé até a oficina, e se sentava na frente até o final da tarde para assistir o movimento da rua. Um dia, a mente falhou e ele se perdeu. Teve que se conformar a viver dentro de casa. Se tornou prisioneiro do Alzheimer, a fala foi embora. Assistiu a vida passar sem mais esforços”, conta Ana Paula.

Mauro foi um ser humano grandioso. Mesmo em meio a tanta dor, manteve-se forte, sereno e amável. Construiu um legado que transformará gerações.

Sua neta finaliza a homenagem narrando um pouco dos seus ensinamentos: “Mauro Leite de Oliveira foi esposo, pai e avô. A humildade era sua essência. Se foi em paz, e fez história no estado de Roraima. Mesmo sem falar, e nem ouvir os filhos e netos, ensinou que a honestidade é o suficiente para a vida inteira.”

Mauro nasceu em Mossoró (RN) e faleceu em Boa Vista (RR), aos 87 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado Neta de Mauro, Ana Paula. Este tributo foi apurado por Lila Gmeiner , editado por Thiago Santos, revisado por Daniel Schulze e moderado por Rayane Urani em 29 de agosto de 2020.