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Melly Simões de Aquino

1945 - 2020

Entre fuxicos coloridos, batons vermelhos e pratos deliciosos, sempre brilhava com luz própria.

Dona Melly era mais que uma estrela, era um cometa — desses raros que aparecem muito de vez em quando para serem apreciados —, assim como esse luminoso corpo celeste, ela não parava quieta, gostava de movimento, de alegria e de estar com as pessoas que amava.

Artesã com mãos de fada, fazia peças caprichadas de crochê e tricô em seu atelier de costura, mas sua paixão mesmo era costurar fuxicos, aquelas lindas rosetas circulares feitas de retalhos de tecido colorido, reaproveitado de outras peças, anteriormente confeccionadas. Os fuxicos têm esse nome porque nasceu entre grupos de mulheres nordestinas que se reuniam para coser essas delicadas peças de ornamento, e aproveitavam para colocar a conversa em dia, fuxicar um pouquinho.

E não é que outro momento de alegria para Dona Melly eram as tardes em companhia da neta Paloma, regadas a fofocas bem-humoradas, histórias de família contadas pela avó e os deliciosos bolinhos de banana que Melly fazia como ninguém. Paloma vivia pedindo a receita do famoso bolinho, e nunca se aventurou a fazê-los, pois tinha certeza que, por mais que seguisse as instruções à risca e caprichasse, jamais faria “O BOLINHO” igual ao de sua querida avó.

Dona Melly foi casada com José Eduardo Aquino, junto dele construiu uma linda família; três filhos, Marcos Eduardo, José Eduardo e Carlos Eduardo; e cinco netos e netas, Marcos Eduardo, Marcos Vitor, Paloma, Marina e Maria Eduarda. Os melhores momentos eram as reuniões com a presença da sempre alegre e brincalhona Dona Melly. Os almoços se tornavam inesquecíveis graças ao alto astral da avó e, também, ao seu talento na cozinha. Fazia questão de preparar os pratos preferidos dos filhos e dos netos: Paloma era fã de carteirinha de sua macarronada; já o neto Marcos Eduardo se deliciava com a torta de frango.

Dona Melly deu aos seus filhos e netos inúmeras lições de vida, por meio das quais ensinava que sempre é possível se reinventar e batalhar por aquilo que se deseja alcançar. A neta Paloma, por exemplo, certamente dedicará seu diploma de Odontologia a essa “mulher porreta”, como Melly mesmo se autoproclamava; o sonho da avó era tratar seus dentes com a neta futura dentista.

Essa “Vovó Maluquinha”, que era pura espontaneidade e energia, que falava sempre “o que dava na telha”, que vivia fazendo graça sobre tudo, que amava os batons vermelhos — um mais vermelho que o outro —, que era um verdadeiro livro vivo das incontáveis histórias de família, deixa saudades. E estará sempre presente, em cada almoço, em cada evento importante, em cada aniversário, pois a essência dessa família foi construída sobre a alegria e a postura positiva de Dona Melly; ela olhava sempre para o futuro e é isso que ela espera que façam cada um de seus descendentes.

Melly nasceu em Arujá (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo neto e pela neta de Melly, Marcos Eduardo de Aquino júnior e Paloma Rainho de Aquino. Este tributo foi apurado por Ana Macarini, editado por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de novembro de 2020.