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Mercedes Carnevalli

1931 - 2020

Uma vida destinada ao cuidado. Assim, exerceu o afeto e a pureza guardados dentro de si.

Mercedes adorava ir à missa. Muito religiosa, gostava muito do Papa e tinha um carinho enorme pelos padres que conhecia. Não ficava um dia sem rezar o terço. Como voluntária, trabalhou por trinta anos no Hospital do Câncer. Seu primeiro emprego foi em uma fábrica de bolachas.

Cuidou do pai e da mãe quando envelheceram, além dos inúmeros socorros aos vizinhos que necessitavam de algo. Se fosse preciso, doava-se por inteiro por quem recorresse a sua ajuda, como uma santa milagrosa.

Em cinco minutos, conhecia todos os estranhos que estivessem ao redor, pois adorava conversar com as pessoas. Podia nunca ter visto, mas ficava amiga com uma boa prosa. Por meio de suas conversas, despertava o melhor que cada um tem dentro de si.

Chamava por todos no diminutivo, independente da idade. Certa vez, quando estava com a sobrinha “Solanginha”, devido aos problemas de visão, confundiu o saco de lixo com uma pessoa. Foi receita certa para muitas risadas e para lembrar a história todas as vezes que se reuniam em família.

Era engraçada, adorava cantar e dançar nas festas de família. Gostava muito de falar e seus irmãos eram suas maiores paixões. Dentre eles, o mais querido era Sidney. Eram, além de irmãos, extremamente amigos. Adoravam passar um tempo juntos, assistindo filmes. Sidney visitava a irmã três vezes por semana, a conexão dos dois permanece linda, transcendendo a vida, é um laço que jamais será desfeito. Nos corações que cativou, Mercedes jamais será considerada uma estatística.

Mercedes nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo irmão de Mercedes, Sidney Carnevalli. Este texto foi apurado e escrito por Ygor Expedito Gonçalves, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2020.