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Mércia Francisco Alves

1952 - 2020

A compaixão é conhecida por muitos nomes próprios. Um deles, certamente, é Dona Mércia.

Auxiliar de enfermagem, no Hospital Emilio Ribas, é uma definição pobre para o que Dona Mércia fazia. Ela vivia para o hospital, para os pacientes e para os colegas. Não era um trabalho, era o lugar onde se realizava.

Cristã, era conhecia pelos pacientes e colegas como “mulher de oração”, pelo seu costume de orar por todos, diariamente. Com sua postura generosa e serena, conquistou o respeito até das pessoas mais difíceis. Conta-se que um dos pacientes mais teimosos do hospital só se comportava na frente dela, por achar que ela “ tinha um olhar diferente”.

Dona Mércia era tão abnegada que, mesmo numa noite de febre alta e posterior desmaio, na casa de uma de suas duas filhas, ao acordar recusou-se a ser levada para a emergência, porque no outro dia tinha que estar cedo no seu plantão.

Após deixar nosso plano, dona Mércia recebeu os justos aplausos de todos colegas que se perfilaram na saída do hospital. Aplausos com que, por óbvio, também foi recebida lá no plano superior.

Mas quem há de duvidar que dona Mércia tenha dispensado tais homenagens e já foi logo pedindo pra ajudar a receber e confortar os que, como ela, recém-chegavam lá em cima?

Mércia nasceu São Paulo (SP) e faleceu São Paulo (SP), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido filha de Mércia, Mery Cristine. Este texto foi apurado e escrito por Fabio Victoria, revisado por Joselma Coelho e moderado por Rayane Urani em 25 de maio de 2020.