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Michael Marcondes de Freitas

1983 - 2020

Amava filosofar sobre como era importante assistir ao pôr do sol para preencher a alma.

Michael era o filho caçula. Amoroso com os pais, fazia de tudo pela mãe e ela retribuía incondicionalmente. Era o pai da Duda que nasceu quando ele era bem novo e, certamente, era o amor da vida dele. Era ao mesmo tempo um filho carinhoso e um pai babão!

Aventureiro, Michael era um espírito livre! Amava viajar, conhecer o mundo e sua essência estava nas viagens que fazia, nas coisas que aprendia e nas pessoas que conhecia. Fazia mochilão, dormia de favor, trocava hospedagem por trabalho.

Não se sabe exatamente quantos países ele conheceu, mas o lugar que mais dizia ter gostado foi a Índia.

Adriana, sua amiga, se recorda da lembrança de uma destas viagens: “Ele passou um tempo no Peru, e quando retornou, me presenteou com uma bebida alcoólica nativa, o Pisco, produzida exclusivamente a partir de uva sem adição de nada, nem água. Toda vez que nos encontrávamos, ele falava dessa bebida. Então, mesmo nos vendo frequentemente, nunca, nem se quer, abri a bebida. Depois de seis anos, quando vi, o alcoólico tinha evaporado”.

Michael era amigo dos seus primos e na adolescência, morou com eles. Adriana cresceu ao lado dele, que sempre esteve ao lado da sua família nos momentos difíceis. “Ele era extremamente carinhoso com a minha mãe, nos levava para passear, íamos a festas e a viagens juntos depois que crescemos”, acrescenta ela.

Michael era goleiro, jogava em um time de sua cidade natal, Campinas, e era apaixonado por futebol. O time do seu coração era o Corinthians, seu grande amor. Amava as festas e nelas dançava qualquer música.

Dentre as muitas histórias vividas com Michel ao longo de sua vida, Adriana relembra de certa vez, quando viajaram para a casa do seu pai e ninguém sabia o caminho ao certo. No dia seguinte se perderam em uma festa e ele simplesmente lembrou o caminho e, aventureiro, foi embora sozinho deixando todos para trás.

Quanto ao que aprendeu com esse amigo tão especial, ela diz: “Michael sempre falava sobre a vida ter sido feita para ser vivida, sobre se aventurar, se jogar. Depois que ele se foi, encontraram no bloco de notas do seu celular, um texto que dizia que é preciso ir embora, para se encontrar, para se perder...

A família imprimiu esse ensinamento dele ao lado de uma fotografia e entregou na missa de sétimo dia. Essa impressão está pregada na parede do meu quarto, para eu sempre me lembrar do quanto a vida é preciosa e passageira”.

Michael nasceu em Campinas (SP) e faleceu em Campinas (SP), aos 37 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela amiga de Michael, Adriana Souza Machado. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 28 de abril de 2023.