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Michelle dos Santos Silva

1982 - 2020

A alegria e o vozeirão eram as marcas registradas da guerreira mais cheirosa que se tem notícia.

Michelle era muito alegre e amava crianças. Por ironia do destino, não pôde ter filhos, o que não a impediu de ser uma mãe para Haylan. Desde o início de seu relacionamento com o pai de Haylan, e até mesmo após a separação, foi ativa na criação, nos cuidados e carinhos maternos com o menino.

Quando pequena, Michelle enchia a casa com as crianças da vizinhança e acabava com o estoque de produtos de higiene. Banhava cada um deles e deixava-os muito cheirosos com talcos e perfumes. "Ela falava muito alto e era apaixonada pela vida. Podíamos ouvir sua voz de longe e ela era muito cheirosa também. Para Michelle, o que importava era ser feliz e fazer os outros felizes", conta Katiane.

Na adolescência, Michelona, como era conhecida por conta de seu tamanho, chegou a ajudar o pai nas cobranças da loja de materiais de construção. Há quem diga que todos iam logo pagando ao verem aquele mulherão chegando para cobrar. Hoje, quem toca adiante a Estância JMK é seu filho de criação, que desde pequeno recebeu do avô as instruções e os ensinamentos para que pudesse ajudar a avó e dirigir o velho Maestro, o caminhão da família.

Trabalhava como auxiliar técnica no município de Tucuruí e era considerada uma ótima profissional. Ajudava muitos médicos, dentre eles Dr. Edimilson e Dr. Antônio, ambos muito queridos por ela.

Apesar de estar no grupo de risco por conta da obesidade, o amor pelo pai (que também foi vítima da Covid-19) e o dom de cuidar fez com que não medisse esforços para ficar ao lado de seu Jocelino, até o dia em que a sua presença não foi mais permitida no hospital.

"Ela foi guerreira, jamais esquecerei o quanto minha irmã foi importante pra mim", revela emocionada Katiane, sua irmã mais velha.

Além de Polaco, o cachorrinho que deixava Michelle doida cada vez que sumia, a família era uma grande paixão de Michelle. O cunhado e compadre Wellington tinha um lugar para lá de especial, ambos tinham muita afinidade e amizade. Foi muito amada pelo pai, pela avó, pelo filho e pelas irmãs Katiane e Jaqueline, mas seu coração batia forte por Isaac, o esposo que sempre a amparou.

Com o sentimento de ter feito tudo que pôde pela irmã, Katiane compreende os desígnios de Deus e se conforta com a imagem de pai e irmã juntos. Lá em cima ─ tal como era quando todos se reuniam em suas idas a Tucuruí ─, estão em festa e comendo um belo mapará, prato típico da região, o preferido por Michelle.

Como sempre Michelle e o pai continuam juntos. A história de Jocelino Maranhão da Silva também está guardada neste Memorial.

Michelle nasceu em Tucuruí (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 38 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Michelle, Katiane dos Santos Silva. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Lígia Franzin em 14 de março de 2021.