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Midian Souza Rodrigues

1989 - 2020

Artesã indígena muito criativa; encantava pelo talento e amor que colocava em cada peça.

Indígena da etnia pataxó, que morava na Aldeia Imbiriba, em Porto Seguro, Midian foi uma pessoa que fez diferença por onde passou. Guerreira, artesã, gostava de criar lindos colares, feitos de sementes de árvores, que enfeitavam as índias de sua aldeia. Também fabricava lindos abajures de piaçava, sempre com muita criatividade, amor e carinho.

Durante toda a vida dedicou-se à sua família, sempre a postos para ajudar e cuidar de todos. Fazia-se presente com atenção, amor e carinho, mesmo com a distância geográfica que os separavam. Midian tinha o costume de ligar para todos os familiares, e com a cunhada Gisele, casada com seu irmão Adelson, não podia ser diferente: entrava em contato para ter notícias deles. A família era a sua fortaleza, sendo sempre a pessoa forte, amorosa e preocupada com todos.

Midian era filha de Cláudia Aparecida e irmã de Adelson, Edimário, Saulo e Bel. Era a mãe amorosa e dedicada de Alison, o primogênito e Indianá, a caçula. Os filhos eram a sua paixão e razão de viver: ela fazia de tudo para vê-los bem e felizes. E virava uma leoa se fosse preciso protegê-los.

Midian sofria de lúpus, mas não permitia que a doença limitasse seus sonhos, sua vida. Lutava há tempos contra essa patologia, o que não a impedia de trabalhar, de usufruir de bons momentos ao lado da família e de cuidar dela.

“Gosto de lembrar dela viva, alegre. Como ela amava fazer artesanato, ouvir música! Midian era uma pessoa iluminada, que vivia intensamente. Não se apegava a coisas materiais. Parece até que sabia que teria pouco tempo neste plano terrestre. Fazia os poucos momentos ao seu lado serem únicos e eternos. Sinto falta de nossas conversas, dos seus conselhos, de sua atenção para conosco. Sua compreensão era o que a fazia diferente — uma pessoa dessas é difícil de se encontrar”, relata a cunhada.

O amor por seus animais não podia ser diferente. Seus grandes xodós eram a Neguinha, sua cachorrinha de estimação e o papagaio Loro, que era muito apegado a ela. Loro ficava muito feliz e cantava quando Midian chegava em casa.

“Ela sempre falava que não tinha medo de morrer, porque a fé em Deus era muito grande. Tinha certeza de que um dia iria voltar, em outra oportunidade de vida, e que este plano seria só uma passagem. Midina acreditava na ressurreição.”

“O que mais me faz lembrar dela é a pessoa que ela foi. Muito interessada, atenciosa, amorosa, carinhosa – ela era única. Quando íamos visitá-la em sua casa éramos sempre bem recebidos, com carinho e um sorriso no rosto. Quando podia, entrava em contato conosco para saber notícias nossas. Não gostava de falar de seus momentos difíceis e amava transmitir alegria. Lembro-me dela alegre e sorridente, apesar do lúpus, e transmitindo amor em tudo o que fazia. Uma guerreira, uma lutadora. Eu a tinha como irmã e está me fazendo muita falta. Mesmo morando distante, ela era muito presente em nossas vidas. Foi uma pessoa espetacular. Tão linda por fora e por dentro, com um coração enorme de tanto demonstrar amor. Grande amiga, irmã, cunhada e confidente. Eu sempre pude contar com Midian”, conta Gisele.

Midian nasceu em Porto Seguro (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 31 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela cunhada de Midian, Gisele Silva Messias Gomes. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Thalita Ferreira Campos, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 24 de março de 2022.