1935 - 2020
Mesmo morando distante dos netos e da filha, trocavam fofocas, conversas e confidências quase que diariamente.
Ainda jovem passou por um divórcio, quando as separações não eram comuns, Myrthes não se deixou abalar. Seguiu em frente, sempre primando pelo respeito, pela conduta impecável, e muito firme em suas opções, cultivando a liberdade que tanto prezava. Conhecida por seu gênio, Myrthes era também aquela que compreendia melhor que cada vida é o resultado das escolhas daqueles que a vivem.
Teve três filhos: Ana, Anísio e Alexandre. Vieram seis netos - Mirian, Bruno, Felipe, André, Guilherme e Sara - e ainda três bisnetos, Pedro, Morena e Samuel.
Dividia suas alegrias com o neto Bruno - na casa tão acolhedora onde morava, com a filha Ana, mãe de Bruno. Tinha enorme intimidade com a nora Inês. Mesmo morando distantes, elas se falavam quase que diariamente; nas longas conversas, trocavam fofocas e confidências. "Minha mãe relembra com muito carinho os momentos em que as duas papeavam nos domingos de manhã", diz a neta Mirian, filha de Inês.
Flamenguista, Myrthes amava assistir aos jogos do seu time, e também aos campeonatos estrangeiros. As novelas também faziam parte de seu entretenimento. Apesar de seu jeito sistemático de ser, gostava de um bom samba, Diogo Nogueira era sua paixão, e de uma cervejinha. Nas noites de Natal preparava aquela tradicional bacalhoada, prato esperado pela família com água na boca. "Era muito empenhada na cozinha", conta a filha Ana.
Tinha orgulho de ter por profissão a contabilidade, de ter trabalhado em empresas aéreas e de advocacia. Foi assim que conheceu Melk, um colega de trabalho que com o tempo tornou-se seu melhor amigo. Outras duas amigas também compartilharam bons momentos com Myrthes, cheios de cumplicidade. Ela, Hilda e Stella passavam horas jogando baralho juntas.
Mesmo envolvida com o trabalho, Myrthes tirava um tempinho para fazer crochê. Era uma terapia que não podia ficar de fora de seus afazeres diários. Fez, com empenho e compromisso, uma colcha de crochê para cada neto e cada bisneto.
"Minha avó não era aquela típica 'vó fofinha'. Era brava, brigava com quem achasse que deveria, mas também era muito amorosa e cuidadosa", relembra Mirian, emocionada. Myrthes deixa muitas saudades e um grande exemplo: quem quer vai à luta e consegue!
Myrthes nasceu em Nilópolis (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Myrthes, Mirian Cristina de Moura Garrido. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Sonia Ferreira, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 23 de julho de 2021.