1927 - 2020
A vida é doce como bolo de banana caramelizada.
Basta eu fechar os olhos e já sinto o cheiro e o gosto do bolo de banana caramelizada que minha avó fazia. Era muito fofinho e doce como a vida. Fazer o caramelo era uma festa. E a cozinha ao final tinha que ficar limpa, brilhando que nem sol. Dona Nair era boa de cozinha e de brincadeira.
Mulher valente, corajosa, destemida. Com ela não tinha tempo ruim. Ainda posso escutar sua risada franca enquanto a gente pulava as ondas do mar. Era uma gargalhada inconfundível. Casou-se muito cedo, com o Seu Gonçalo com quem fez três filhos. Também com ele aprendeu a pescar e se tornou uma brava pescadora. Mas também muito vaidosa! Nem pensar sair de casa sem um brinco ou colar de pedrinhas. Jamais saia na rua sem um bom batom vermelho.
Uma vez, eu me lembro bem, eu tinha uns 9 anos, ela saiu pra pescar com meu avô. Pescou um peixe que tinha mais de 1,30 metros. Ela colocou o bicho do meu lado e era mais alto do eu. Rimos muito disso. Ela se tornou pra mim uma grande pescadora, determinada e corajosa.
Era uma mulher firme, de muita fé. Na porta da casa simples, uma imagem de Nossa Senhora abençoava quem chegasse e quem saísse. E de repente veio tudo isso. Um olhar de dor. Ela me disse: "estou sem ar". Sem poder sequer revê-la, fiz um bolo de banana para me despedir.
Eu te amo minha avó querida.
Nair nasceu São Paulo (SP) e faleceu São Vicente (SP), aos 93 anos, vítima do novo coronavírus.
Jornalista desta história Sandra Maia Farias Vasconcelos, em entrevista feita com neta Thaís Cecília Fernandes Passos, em 21 de maio de 2020.