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Nedir Ferreira Guedes

1959 - 2020

Apaixonado pelos netos e pela família, era fã de macarrão, churrasco e Amado Batista.

Nedir não era uma pessoa muito musical, mas a família sabe que ele era fã de Amado Batista. Então, na playlist de Johnny e Rita agora há canções do cantor, como forma de deixar Gordo, como era carinhosamente conhecido, feliz. Também o almoço de domingo passou a ter um lugar vago, sem aquele que gostava de macarrão e churrasco.

Uma de suas características mais marcantes era o amor pelos netos. “Ele era louco por eles”, diz Rita, nora de Nedir e mãe de João, de 5 anos, que guarda carinhosamente um relógio deixado pelo avô, que de vez em quando colocava no braço. A mais nova, Júlia, de 4 meses, ele não chegou a conhecer. Além dos dois, deixou Nandara Victoria, Isaac Eduardo, Enzo e Arthur Miguel, e os filhos Wenderson, Johnny (esposo de Rita) e Camilla.

Pouco antes de ser silenciado pela Covid-19, Gordo mandou um áudio em que prometia visitar João tão logo saísse do hospital: "Oi, eu passei bem a noite, está tudo bem, não precisa preocupar não. Como é que está, Joãozinho? Está bom, 'fio'? É o vovô, 'fio'. Saindo daqui do hospital eu vou aí te ver, tá bom? Tchau, Rita. Tchau, Johnny".

Foi assim, com voz rouca e fala debilitada por causa da doença, que ele cumprimentou a família no dia 12 de agosto. Em seguida, Rita falou que João estava dormindo e que logo o sogro sairia do hospital – ele estava internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Jaguaré, em São José do Rio Preto (SP), cidade onde vivia. "Tchau, fica com Deus. Tchau", foi a última fala dele. Depois disso, silêncio. Nedir foi transferido para um hospital de referência em Américo Brasiliense (SP), mas acabou não resistindo.

No início da hospitalização, a família estava esperançosa, já que os médicos diziam que nem metade dos pulmões estava comprometida, mas o quadro se agravou, inclusive com complicações renais.

Conversas anteriores a toda a dor, que passaram despercebidas, ganharam novos contornos. Gordo havia completado 61 anos em 7 de agosto, uma semana antes do aniversário de 5 anos de João. Quando o menino foi cumprimentar o avô, ele respondeu: “Parabéns pra você também”. O neto corrigiu o avô, que insistiu nos parabéns. "Na hora a gente acha que não é nada, mas agora eu consigo ver. Em todos os aniversários ele esteve presente, mas nesse ele não estaria. Agora a gente vê as mensagens... Parecia que ele estava se despedindo", lamenta Rita, dizendo que Nedir está fazendo muita falta – algumas das melhores lembranças são os almoços de domingo, com churrasco e macarrão.

"Não perdi um sogro, mas sim um amigo. Enquanto eu viver, vou lembrar dele, vou amar. É a melhor pessoa que conheci na vida, porque era muito bom de coração. Para nós não vai ser fácil superar essa perda", lamenta Rita.

Nedir foi sepultado no Cemitério Jardim da Paz, em São José do Rio Preto.

Nedir nasceu em Passos (MG) e faleceu em São José do Rio Preto (SP), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora de Nedir, Rita Maria Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Millena Grigoleti da Silva, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2021.