1931 - 2021
Forte, divertida, falante e animada, gostava da riqueza de detalhes das histórias que ouvia e contava. Ela soube viver.
Forte, divertida, falante e animada: Neli soube viver!
Nascida no Triângulo Mineiro, Neli teve uma infância alegre e uma juventude divertida apesar das dificuldades financeiras que a família passou. Fazia muito sucesso entre os rapazes — adorava paquerá-los nos dias de footing. Estudou e até se formou professora, mas nunca exerceu a profissão.
Já casada, morou numa fazenda em Brumadinho, mudou-se para Patos de Minas e depois para Belo Horizonte, onde viveu até partir. Com seu companheiro e grande amor Geraldo, construiu uma vida mais confortável.
Teve cinco filhos — quatro homens e uma mulher. Para Neli, a melhor coisa do mundo era ter uma filha mulher. E a dela, era a melhor filha do mundo. Às vezes, era brava e controladora, mas de coração maternal muito doce.
Toda a trajetória de vida fez dela uma mulher muito correta, forte e precavida, sempre preocupada com o futuro. Nada que pudesse prever, porém, a dor da partida de um dos filhos no auge da juventude. Mas, assim como em outros momentos, deu a volta por cima, reagiu e seguiu em frente, sem nunca esquecer. Rezava por ele todos os dias.
Ela faria qualquer coisa pela família, que adorava reunir. Por isso, sua festa favorita, com certeza, era o Natal, que planejava o ano todo. Leitão à pururuca e salpicão para o almoço, decoração completa, muitos presentes e, principalmente, a casa cheia dos seus amores. Além dos filhos, foram 12 netos e alguns bisnetos.
Apesar de alguma confusão mental e dificuldades locomotoras, resultado de um AVC sofrido por volta de 2015, Neli manteve forte a vontade de viver e aproveitou muito a vida. Para ela, era impensável ficar parada, muito menos em casa: gostava de passear, viajar ou bater pernas por aí. Além de linda, era bastante vaidosa e não saía sem maquiagem ou acessórios. Detestava roupas pretas, por isso, vestia sempre com peças coloridas.
Talvez, por ser tão ativa e feliz, nunca tenha sentido o peso dos anos. Qualquer um que a visse, sempre arrumada, alegre e bem-disposta, não acreditaria que estava perto dos 90. Ela mesma repetia, em tom de futuro bem, bem, bem distante: "quando eu ficar velha..." Se questionada sobre sua idade, fingia não se lembrar ou ter esquecido, apesar da ótima memória.
Memória desenvolvida e estimulada pela vida ativa e pelas horas a fio que passava contando e conhecendo histórias. Sempre interessada, para ela, um caso, por mais comum e rotineiro que fosse, só era bom com riqueza de detalhes.
Infectada no final de 2020, Neli não soube que estava com o novo coronavírus. Pôde virar o ano com a família e até ser cuidada no conforto de casa, por um dos netos ─ médico ─, antes de enfrentar a agonia da internação no hospital, para onde não queria ir. Com a bênção serena de uma oração da filha Suzana, partiu. Foi encontrar o filho, sua irmã querida e os pais, e matar a saudade do eterno amor, que partiu há catorze anos.
Neli nasceu em Araxá (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 89 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Neli, Suzana Tallarico Cambraia. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mariana Campolina Durães, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 3 de fevereiro de 2021.