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Nilton de Oliveira Rios

1947 - 2020

Suas mãos habilidosas consertavam motores de caminhão e plantavam árvores frutíferas no quintal de casa.

"No escurinho do cinema
Chupando drops de anis
Longe de qualquer problema
Perto de um final feliz"...

Uma das músicas preferidas de Nilton dá o tom de sua personalidade leve, divertida e amável. "Ele gostava muito da Rita Lee. Também gostava do Raul Seixas e do Kenny G. Vivia cantarolando "no escurinho do cinema"; adorava um cafuné, uma coçadinha nas costas e um bom churrasco", afirma a filha Leisa.

Petropolitano, Nilton cresceu perto da natureza serrana. Amava os passarinhos, porém soltos. Teve cachorro, gato e chegou a cuidar até de uma coruja que resgatou com a asa machucada. Leisa conta que "ele não matava nem um grilo sequer. Era generoso, honesto e prestativo".

Nilton perdeu o pai, Joaquim, e sua única irmã, ainda garoto. Quem fez o papel de mãe e pai para ele e os outros dois irmãos foi a avó chamada Camila, mulher forte e carinhosa, por quem o neto tinha um zelo todo especial. "A casa da minha bisavó ficava praticamente ao lado da nossa. Eu dormia com ela todas as noites porque ela tinha marca-passo e era meu pai que me deixava lá. Ele pedia a 'bença' todas as vezes, pois era era muito apegado a ela, assim como eu", pontua Leisa.

Nilton conheceu o amor de sua vida ainda na infância, quando Dinorah defendia o próprio irmão das brigas frequentes com ele. Atravessaram a adolescência com seus respectivos namoros e, já adultos, ficaram juntos. Em seis meses, estavam casados. Tiveram duas filhas, Laisa e Leisa, que lhes deram dois netos, Laila e João Victor. Leisa ressalta que os pais sempre foram muito dedicados: "meus pais moravam com minha irmã e a filha dela, que tem deficiência. Eles cuidaram de ambas. Passamos por algumas dificuldades financeiras, mas nunca faltou amor na nossa família".

Dentre as memórias mais queridas de Leisa estão as viagens para Teresópolis que os quatro faziam quando ela e a irmã eram pequenas. Segundo a caçula, era Nilton que acordava no meio da noite para fazer mamadeira. "Me lembro como se fosse ontem de chamá-lo: pai, quero mamar! Ele sempre nos levava para a escola. Foi ele também que nos ensinou a amar e a respeitar a natureza e os animais. Em resumo: um paizão".

Com os netos, não foi diferente. Nilton praticamente assumiu a paternidade de Laila e permitia-se fazer o papel de avô babão com João Victor. "Quando papai parou de fumar, guardou o dinheiro dos maços que ele deixou de comprar para dar um tênis ao João, um presente que ele escolheria sozinho", relembra Leisa.

Na juventude, Nilton gostava de acampar. Antes de se casar, foi caminhoneiro, todavia, como pai de família, optou pelo curso de tornearia e virou torneiro mecânico, profissão que lhe mantinha perto dos caminhões, sua paixão. "Papai sempre adorou oficina. Os colegas de trabalho fizeram, inclusive, uma vaquinha para consertar o carro dele. Ele era muito querido pelos 'meninos', assim os chamava", explica a filha.

Um dos sonhos de Nilton era morar na roça. Enquanto não podia realizá-lo, fez do quintal da casa um pomar colorido com pés de pitanga, amora, mexerica, araçá, laranja, goiaba e ameixa. "Tinha um belo pé de boldo também", enumera Leisa, que completa: "Mamãe partiu quatro meses após o meu pai. Eles eram muito ligados e cuidadosos um com o outro. Agora, o amor deles permanecerá conosco para sempre".

Nilton nasceu em Petrópolis (RJ) e faleceu em Petrópolis (RJ), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Nilton, Leisa Brand Rios. Este tributo foi apurado por Talita Camargos, editado por Luciana Assunção, revisado por Elias Lascoski e moderado por Rayane Urani em 11 de dezembro de 2021.