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Nunes Pereira da Silva

1928 - 2020

Dizia que caipirinha curava qualquer coisa, mas nem a mais forte aliviaria a falta que ele faz.

Português, chegou ao Brasil por volta dos 40 anos, onde conheceu Maria José, amor da sua vida. Desbravou todo o Brasil e, após quatro anos de casamento, estabeleceu morada no Acre, lugar que ficou até o fim da vida. Pai de sete filhos, também foi avô, bisavô e tataravô.

Dominava como poucos a arte de se reinventar, o que fez com que tivesse, ao longo da sua vida, diversas profissões, como fotógrafo, fazendeiro e entregador de leite. Esse último ofício, inclusive, é lembrado com muito carinho pela neta Kamila: “Por um tempo, na minha infância, meu avô entregava leite nas residências. Então, como a minha casa era a primeira, quando ouvia o som da buzina, radiante de felicidade, já me preparava para subir na sua caminhonete e entregar leite com ele”.

Mais tarde, já idoso, decidiu escrever livros sobre a história da sua vida, fazendo jus à fama de bom contador de histórias, cujos enredos sempre começam com “quando eu era menino, lá em Portugal…” e se perpetuavam por horas a fio. Aos 90 anos, realizou o sonho de voltar a Portugal para rever o filho. Transformava cada dia em um novo recomeço, sonhos em realidade!

Impossível não recordar da forma inspiradora com que Seu Nunes devotava à vida. Em seus aniversários, fazia questão de convidar todos os conhecidos. Gostava de casa cheia. Difícil se esquecer também do quanto ele apreciava uma caipirinha bem forte. Dizia curar qualquer doença. Aliás, preparar uma caipirinha foi a primeira coisa que ele aprendeu, logo que chegou ao Brasil. Vivia intensamente todos os seus dias!

Dono de uma fé inabalável, todos os natais, recolhia cestas básicas para as famílias mais pobres, cumprindo assim, a promessa feita para que sua esposa, Maria José, se curasse de um câncer de mama. E assim o fez, por onze anos, até o seu último Natal. Seu Nunes dizia que conversava cara a cara com Deus e que não temia a morte, pois, nas palavras dele: “a morte não é uma tristeza, é uma alegria, pois, enfim irei morar num lugar cheio de pureza.”

Um dia antes de morrer, a neta Kamila disse que ele ficaria bom, Seu Nunes sorriu e sussurrou: “eu já estou bom!”

Nunes nasceu em Moitas (Portugal) e faleceu em Rio Branco (AC), aos 91 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Nunes, Kamila Oliveira da Rocha. Este tributo foi apurado por Irion Martins, editado por Andressa Vieira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 29 de novembro de 2020.