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Odete José Tartari

1942 - 2020

Suas delicadas mãos, além de belas, eram habilidosas no preparo de deliciosos pratos.

Odete era daquelas que adorava bater pernas, perambulava com as vizinhas pelas lojas de um real que ficavam na avenida movimentada do bairro onde morava. Suas compras quase sempre eram utensílios para a cozinha ─ vivia em busca das novidades apresentadas nos programas de culinária que assistia para testar novas receitas. Com mãos pequenas, delicadas e gordinhas, com unhas compridas e sempre esmaltadas, Odete fez, de suas receitas, memórias prazerosas.

“Era uma ótima cozinheira, parece que sinto o cheiro do bife preparado por ela ─ nunca mais vamos comer um igual. Ela fazia uma carne assada que era um clássico e, aos domingos, tinha sempre nhoque com molho. Suas mãos eram mágicas!”, descreve a filha Mara.

Foi casada por cerca de quatro décadas com Amâncio Tartari, união que resultou nos filhos: Miriam, Mara e Ricardo; e rendeu-lhe a aptidão de ser “a melhor mãe do mundo”, como retrata Mara. Uma mãe que soube dividir seu amor sem fazer distinções. Décadas se passaram e, mesmo morando em um lar de longa permanência, os domingos continuaram a ser exclusivos para almoços que fortaleciam o laço de mãe e filha ─ que, no caso, eram com Mara, que esteve mais próxima de Odete até sua partida.

“Sua alegria chegou”, era assim que Amâncio anunciava a visita da filha Mara para a esposa. A saudade que a invade pela falta da mãe é, em grande medida, atenuada ao lembrar que em toda oportunidade que teve, disse à mãe o quanto a amava. “Queria que ela estivesse aqui me dando trabalho, me deixando doidinha e me confundindo com os remédios dela. Sempre falava que ela era muito importante pra mim e ainda bem que não deixei de dizer ‘eu te amo’. Ela sabia do meu amor!”, expressa a filha.

Muito autêntica, Odete nunca teve papas na língua ─ sempre falou tudo que pensava. Ela amava a vida, principalmente depois da cura da depressão. Permitiu-se viver uma nova paixão no fim de seus dias e guardou esse amor dentro de si.

Odete deixa o exemplo de que abater-se diante da vida não é uma alternativa. Ela permanece inabalável na memória de quem a amou em vida e sempre a amará.

Odete nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Odete, Mara Tartari. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de junho de 2021.