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Odgar Nunes Cardoso

1960 - 2020

Foram 31 anos dedicados a servir e guardar a vida das pessoas.

Filho de Euclides e Luiza, Odgar teve uma infância pobre, vivida com mais oito irmãos. O pai era trabalhador da construção civil, faleceu deixando alguns filhos ainda menores aos cuidados da mãe, que trabalhava como cozinheira para sustentar a família.

Para ajudar a mãe, Odgar começou a trabalhar muito cedo. Quando criança, rachava lenha. Depois trabalhou em pedreira e na manutenção e conservação de estradas. A esposa Silvia lembra o relato do marido sobre essa época: “Cansei de comer marmita azeda ou com formiga”.

Em busca de melhores oportunidades de trabalho, mudou-se para Curitiba, onde já moravam três dos seus irmãos. Em 1988, prestou o concurso público para Guarda Municipal e, com muito esforço, estudando na Biblioteca Pública, foi aprovado.

Odgar passou por todos os níveis da carreira - guarda, supervisor, inspetor e chefe - e se aposentou após 31 anos de trabalho, quando respondia pelo cargo de superintendente executivo da Secretaria Municipal da Defesa Social e Trânsito. Segundo a esposa, ele “conhecia muito de segurança pública e servia com prazer. Cumpria e fazia cumprir fielmente os deveres da profissão, nunca medindo esforços. Era solícito e atencioso com todos, desde os mais vulneráveis às máximas autoridades”.

Gostava de compartilhar seu conhecimento e sua experiência, por isso, “estava sempre aconselhando e ensinando, principalmente os que iniciavam na carreira”, relata Silvia.

Por toda essa trajetória de trabalho e compromisso, recebeu inúmeras homenagens e honrarias, sendo a última a Comenda da Ordem Municipal da Luz dos Pinhais de Curitiba.

Foi na Guarda Municipal, em 1988, que conheceu sua esposa Silvia. Ela conta que, na época, eles tiveram que “pedir autorização para o casamento não aos pais, mas ao Diretor da Guarda Municipal”.

Tiveram dois filhos: Lucas e Helena, os dois formados profissionalmente e educados com valores éticos e morais tão caros aos pais. Afirma Silvia que “Odgar sentia muito orgulho pelas conquistas profissionais, pessoais e familiares, resultado de muito trabalho e amor”.

E ainda tinham três filhos caninos, que recebiam todo carinho e atenção de Odgar: “Barriga”, “Zeus” e o xodó “Felin”, que o acompanhava no café da manhã todos os dias.

Em casa, a esposa recorda que Odgar “não tinha preguiça: era eletricista, encanador, marceneiro, pedreiro, pintor. Gostava de ver suas próprias artes”. E também se aventurava na cozinha. Sua especialidade era a “gororoba”, título atribuído por Odgar para o seu cozido de linguiça com batatas.

Na família, Odgar era considerado “o melhor churrasqueiro”, afirma o sobrinho Thiago, que também participa dessa homenagem. Thiago lembra uma viagem que fez com o tio no Natal de 2011 para o Rio Grande do Sul, onde curtiram a tão famosa “varandinha”- como era chamada a casa de Dona Luiza. “Vivenciamos bons momentos em família, além de conhecer toda a cidade de Júlio de Castilhos. Fomos até ao cemitério tirar fotos”, conta o sobrinho.

Nessas festas em família, não podiam faltar o chimarrão na varanda, a música gaúcha e a viola.

“Não chore não querida
Que se deserto finda
Tudo aconteceu eu nem me lembro
Me abraça minha vida
Me leva em teu cavalo
E logo no paraíso dançaremos”
Romance no deserto, de Amado Batista (músico preferido de Odgar)

Segundo Silvia e Thiago, Odgar era exemplo de humildade e integridade e estava sempre disposto a ajudar quem precisasse. No Projeto Papai Noel Azul, desenvolvido pela esposa dentro da Guarda Municipal, ele “arregaçava as mangas para conseguir o que as crianças pediam nas suas cartinhas”.

Católico e devoto de Nossa Senhora Aparecida, Odgar não saia de casa antes de acender uma vela e fazer suas orações. Nesse momento, a família e os amigos, com saudade e gratidão, rezam a Nossa Senhora pelo legado e pela história de amor e compromisso de Odgar.

Odgar nasceu em Júlio de Castilhos (RS) e faleceu em Curitiba (PR), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo sobrinho e pela esposa de Odgar, Thiago Quintana Pereira Da Silva. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Denise Stefanoni, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 28 de janeiro de 2021.