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Olivar Solimões Ferreira

1935 - 2020

Colocava "surpresas" nas mochilas dos netos para fazê-los ligar para ele depois.

Camila escreveu a seguinte homenagem ao pai:

Todos o conheciam como Loly. Amável com todos, totalmente dedicado à família e principalmente à sua esposa, Ivete, com a qual teve três filhos homens. Os dois mais novos faleceram jovens, repentinamente.

Teve ainda duas filhas do coração e uma nora tratada como filha, que retribuía tratando-o como pai, cuidando dele também enquanto estava doente.

Loly era homem de fibra, mas transpirava calma e serenidade. Sua fala era mansa e seu olhar, acolhedor.

Com a esposa viveu 60 anos de muito amor e cumplicidade. Chamava-a de "minha velhinha", e ela a ele de "Lo".

Aos olhares de outros era calado. Com os que conhecia era um contador de causos de quando vivia no interior do Amazonas, na comunidade de Vila de Santa Isabel.

Filho de uma família com muitos irmãos, começou a trabalhar cedo, lidando com a juta e também vendendo produtos de primeira utilidade aos ribeirinhos em outras comunidades.

Narrava lembranças de pescarias e de amigos. Era conhecido pelos antigos. Dava gosto de conversar com ele. Contava histórias fabulosas de antigamente. Sentávamos à mesa para ouvi-las. Como sempre, com o cafezinho preparado por ele e o bolinho de goma ou a banana frita, costume em nosso estado.

Costumava também acordar cedo, esperando o sol raiar para a sua matinal saída à padaria para buscar pão fresquinho. Saía impecável, todo arrumado.

Fazia tudo pela mulher, pelos filhos e pelos netos. Fazia traquinagens: colocava escondido legumes, quando não alguma quantia em dinheiro, na bolsa dos netos só para eles ligarem para o avô, quando chegassem ao seu destino e descobrissem a "surpresa". Ele caía na gargalhada.

Pai muito estimado, avô querido, viveu como queria: junto aos seus e feliz com o que Deus lhe proporcionou.

Olivar nasceu em Santa Isabel do Rio Negro (AM) e faleceu em Itacoatiara (AM), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Olivar, Camila Barreto. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 23 de janeiro de 2021.