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Onésio Aparecido da Silva

1961 - 2020

Barulhento e alegre, foi a distração e amor da família. O silêncio de seu violão dá lugar a lindas lembranças.

Um orgulho enorme, que mal cabia no peito, por ter se tornado carreteiro aos 50 anos. Dedicado à empresa e sempre disposto a ajudar, era um bom homem e muito alegre.

Era marido de Milza, com quem trouxe ao mundo e criou com todo amor os filhos Thais, Tamires e Lucas. Sua vida era em função da família. Quando ela cresceu, acolheu os genros e nora como filhos, fazendo questão que todos morassem no mesmo quintal. Foi com muita felicidade que se tornou avô de oito netos. E, se nunca disse não aos filhos, imagine aos netos, que eram seus amores.

Thais fala sobre o pai que era muito festeiro: "Ele e meu tio Edson eram os palhaços da família. Eles alegravam todas as festas com danças e música. Meu pai adorava fazer todo mundo parar pra vê-lo tocar. Além de amoroso, era o homem mais alegre desse mundo. Nascemos no mesmo dia: 12 de outubro. Meu pai tinha planejado uma festa de aniversário dupla pra nós e aproveitaria para rever os irmãos que tanto amava. Ele imaginou já ter acabado a pandemia quando chegasse a data."

Nos últimos tempos, o prazer de Onésio era assistir às novelas e séries. Na quarentena, assinou uma plataforma digital para adiantar os capítulos da novela "Êta Mundo Bom!" Ele adorava ficar horas com o neto Guilherme assistindo às séries de zumbi; ou na companhia da esposa, até de madrugada, maratonando séries.

Marido, pai, sogro e avô excepcional, era dedicado à família e ao trabalho. Estava ansioso para quitar seu carro, mas nunca deixava de ajudar os filhos.

Também conhecido por algumas pessoas como Barriga, as filhas Thais e Tamires contam que, além de um ser humano incrível, o pai adorava uma bagunça, dançar e tocar violão. "Era uma figura!", nas palavras delas, sempre barulhento, falando muitos palavrões e dando risadas bem altas.

Thais, a primogênita, a quem o pai se referia carinhosamente como "minha pele mais fina", entrega que Onésio era louco por lasanha e pudim. Mas não tanto quanto pela família. Seu melhor amigo era também seu irmão. Edson sempre usava um bordão, que era: "por ironia do destino..." Eles eram muito ligados e Thais sente que ambos seriam incapazes de aceitar a partida um do outro. Mas os dois contraíram o vírus e faleceram com cinco dias de diferença. "Por ironia do destino", sem que nenhum deles soubesse do descanso de seu melhor amigo.

"Nosso pai, quando foi para o hospital, disse que tudo ficaria bem e sairia logo de lá. Pediu que cuidássemos de nossa mãe. A cachorra, Helena, e a gata, Pandora, ainda procuram por ele perto da cama, esperando a prometida volta. Ele é nosso grande amor, aquele que transformou sua vida, dedicando-se a nos tornar adultos melhores. A casa vivia cheia. Agora, ainda que esteja cheia, faltará seu barulho, sua voz alta pra sempre marcada em nós. Seu violão está no mesmo lugar. Seu café... Ah, que delícia de café! Nunca mais tomaremos igual, mas sempre nos lembraremos do gostinho dele e sua presença estará eternamente conosco", despedem-se as filhas com as saudades conjuntas da esposa, netos, genros e nora.

Onésio nasceu em São João Nepomuceno (MG) e faleceu em Itapecerica da Serra (SP), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelas filhas de Onésio, Thais e Tamires Telles. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 6 de março de 2021.