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Onette da Costa Azeveido

1932 - 2020

Nunca envergou diante das dificuldades da vida, alimentou e educou os nove filhos.

Respeitada por todos, esposa e mãe exemplar. Assim era Onette.

"Mulher de fibra, católica, tricolor, patriota, esquerdista, que retribuía o amor conquistado àqueles que tiveram a oportunidade de conviver com ela", descreve o filho Júlio Cesar.

Uma dia, num bonde, um rapaz perguntou à Nette:
─ Qual o nome da uva?
─ Ivone ─ ela respondeu.
─ Nome bonito! O meu é Moacir ─ o rapaz replicou.

Na verdade, ele se chamava Pedro, mas ela sempre o chamou de Moacir e ele, a chamava de Nette. Foram casados por quase sessenta anos.

Júlio conta que Onette teve uma infância muito pobre e sofria ao ver seus filhos passando pelas mesmas dificuldades que ela. Mas era uma lutadora e, por eles, fazia o milagre do pão: com apenas dois ovos, preparava uma boa refeição para os nove filhos, de forma igualitária.

Dona de casa e muito zelosa, nunca trabalhou fora. Sua vida era o lar e a família. O marido gostava de passear, mas ela ficava e fazia com capricho a mala dele.

Rigorosa nos seus ensinamentos, corrigia com o olhar e, às vezes, uma palmada, para logo em seguida esmorecer. Sempre teve muito amor pra dar.

A filha mais velha partiu aos 59 anos, em 2011, deixando um vazio no coração de Nette.

Apaixonada pelo Fluminense, tinha uma bandeira enorme do time e assistia a todos os jogos, vibrando muito nas vitórias com os nove filhos, todos torcedores do tricolor. Ela prestigiava, também, as seleções brasileiras de qualquer modalidade de esporte, como vôlei, futebol e basquete. Para ela, o que importava era valorizar os atletas do pais.

Tinha uma vida política ativa, era de esquerda e participava de comícios. Quando o filho Júlio bateu o carro em uma carreata do Lula, dona Nette disse: "Não se preocupe. Você estava ajudando o Brasil".

Ela teve mais de 20 netos e alguns que o coração adotou. O filho Júlio conduzia um projeto social em casa e ela se tornou avó de várias pessoas. Festeira, não perdia um evento de aniversário e, até os 80 anos, foi aos desfiles de escola de samba com o filho; não tinha uma escola de preferência, ia pela festa.

Era apaixonada pelos três cães: Dark, Zulu e Bethoven, que morreram após sua partida. No início, ela não queria animais em casa, mas a cachorrinha Dark a conquistou a ponto de até dormir no seu quarto. "Ela morreu de saudades da mamãe", diz o filho Júlio.

Nette deixa saudade e lembranças doces da mulher forte que chamava a todos de "amor da minha vida".

Onette nasceu em Cambuci (RJ) e faleceu em Cabo Frio (RJ), aos 87 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Onette, Julio Cesar Costa Azeveido. Este tributo foi apurado por Talita Camargos, editado por Rosa Osana, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 10 de junho de 2021.