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Ordina Teiche Pereira

1926 - 2020

A bravinha mais doce. Não havia quem deixasse de sorrir ao ouvir as falas bravas com sotaque alemão.

Arroz, feijão, tomate e ovo, essa combinação tornou-se o prato preferido de muita gente que provou a refeição clássica de dona Ordina.

Amava comer pé de galinha e que os netos comessem juntos. Tornava deliciosos esses momentos à mesa.

Neta de alemães, era doce, mesmo que tudo que dissesse soasse rude. O sotaque europeu e a personalidade, ao mesmo tempo, deixavam as falas duras e engraçadas. Assim, o jeito de falar sempre fazia sorrir quem a ouvisse.

Por isso, à primeira vista era durona, mas quem conviveu com Ordina demorava pouco para elegê-la a bravinha mais doce do mundo. Morou com um dos filhos e recebia, diariamente, visita da outra filha, o que a tornava mais feliz.

Do sofá onde passava a maior parte dos seus dias, deixava a porta sempre entreaberta à espreita das visitas dos familiares.

Da janela, cumprimentava todos que passavam na rua.

Adorava visitar os familiares no interior e fazia de tudo para ver os 11 netos, sete bisnetos, dois filhos e quatro afilhados (como chamava os enteados) bem. A felicidade deles era a dela.

Sua atividade preferida: rezar e ir à igreja. Começava as manhãs com orações e continuava as preces até o anoitecer. Foi uma mulher de muita fé e guerreira, tornou-se eterna no coração de quem a conheceu.

Ordina nasceu em São Gabriel da Palha (ES) e faleceu em Vitória (ES), aos 94 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Ordina, Chayene Pereira Leal Souza. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 29 de agosto de 2020.