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Orlando Guedes de Matos Júnior

1985 - 2020

Baiano que não reclamava da vida. Trabalhava na rua 25 de Março e amava a sua família.

"Landinho", era assim que as pessoas o chamavam. Sempre sorridente e feliz. Filho de pais separados, viveu toda a sua infância com o seu pai e próximo da família paterna, onde cresceu em meio a muito amor. Saiu da Bahia ainda na adolescência para tentar a sorte na grande São Paulo.

Ao chegar na capital paulista trabalhou como camelô e conquistou a 25 de Março com toda a sua simpatia. Por lá todos os conheciam como "Neguinho" ou "Jarrão" - fez muitos amigos, constituiu família e teve um filho.

Não reclamava da vida e dizia estar sempre bem, mesmo quando de fato não estava. Landinho se separou, foi morar em uma pensão e, quando os familiares da Bahia perguntavam como ele estava, ele dizia: - Está tudo bem!

Ele se contaminou ainda em São Paulo e, ao se ver sozinho, pediu ajuda a um amigo que conseguiu mandá-lo de volta para à Bahia. Saiu de São Paulo no dia 20 de abril e chegou na Bahia três dias depois na casa da sua família paterna. Ao chegar, um tio percebeu que ele estava abatido e com falta de ar, resolveu pedir ajuda à secretaria de saúde do município, que fez o exame e deu positivo para COVID-19.

Landinho ficou internado em isolamento e o contato com ele foi por meio de ligações telefônicas - o que o acalentava e dava forças para continuar lutando pela vida. Durante a semana descobriram que, além do COVID, ele tinha Chagas, o que agravou ainda mais o seu estado de saúde.

"Gratidão a Deus por ter nos dado esse homem-garoto que protegia as primas. Que sabia viver intensamente: que pulava da ponte e se banhava no rio, que assanhava os arapuá pra que eles grudassem nos cabelos das primas, que gostava de ouvir as historias do avô João no batente da casa, que era sempre feliz, muito feliz", lembra a prima Rosa Carolina.

Ele voltou para Bahia pra morrer na sua terra, perto das pessoas que mais amava. Foi embora dias antes de completar 35 anos. A família não pôde se despedir, mas puderam dizer em vida o quanto o amavam.

Orlando nasceu Salvador (BA) e faleceu Salvador (BA), aos 34 anos, vítima do novo coronavírus.

História revisada por Beatriz Bevilaqua, a partir do testemunho enviado por prima Rosa Carolina Silva de Matos Lopes, em 19 de maio de 2020.