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Oswaldo Cesar Estrafacci

1954 - 2020

Como bom filho de italiano adorava preparar massas. Guardou tão bem o segredo, que o levou para o céu com ele.

Toda manhã ele fazia tudo sempre igual. Ligava o radinho e já conectava o pen drive com suas músicas. Na companhia do café, sentava-se na cadeira e apreciava seu cigarro ouvindo um bom samba. Logo pela manhã, também não poderia faltar o áudio enviado para os filhos Tamarise e Andrei por aplicativo de mensagens: “E aí, lindona? E aí, lindão? Tá tudo bem?” Cesão, como era mais conhecido, era um homem forte e bravo, mas, ao mesmo tempo, com um coração gigante.

Estar em sua companhia era como escutar um bom samba, impossível não sorrir. Assim como a união dos instrumentos de percussão cria a melodia alegre e contagiante do samba, Cesão criava um ambiente divertido e cativava todos ao redor. Seu programa preferido era ficar conversando e bebendo uma cervejinha ao som de algum samba, sem sombra de dúvida. Como corintiano roxo que era, se estivesse passando o jogo do Timão então, nada melhor.

Outra de suas paixões era a culinária. Filho de italiano, Cesão cozinhava muito bem. Autônomo desde o início da década de 2000, adorava preparar massas e temperos, “essa era a sua linha profissional”. Massas frescas, pão de batata recheado e seus famosos temperos são apenas algumas de suas criações apetitosas, que vão deixar uma lembrança aconchegante na memória daqueles que tiveram o privilégio de provar suas iguarias. “Tudo dele era muito caprichoso, mas ele só fazia quando a gente obrigava”, lembra com ternura sua filha.

Mas não se engane, essa ternura não era perene, não! Quando lhe convinha, conseguia ser muito cabeça-dura, “não gostava de ser contrariado”. Principalmente quando o assunto era ir ao hospital – ainda que tivesse uma esposa enfermeira e uma filha técnica de enfermagem. Para conseguir tal feito, “tinha que estar faltando um pedaço”. Cesão odiava hospital, odiava médico.

Seu conselho clássico para os filhos era: “Ora, se apega com Deus que esse mundo não tá fácil, o negócio tá estreito”. Infelizmente, o medo foi maior, e Cesão foi tocar seu cavaquinho e repique ao lado de Reinaldo e Beth Carvalho, sambistas por quem sentia demasiada admiração.

Pessoa do bem, homem correto, Cesão foi casado três vezes; deixou os filhos Erick, do primeiro casamento, e Tamarise e Andrei, do segundo; além da esposa Sonia, com quem foi casado por quinze anos. Parafraseando a famosa sambista Alcione “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar...”, as lembranças queridas das experiências vividas, ao lado de Cesão, nunca morrerão e jamais acabarão.

Oswaldo nasceu em São Paulo (SP) e faleceu na Praia Grande (SP), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Oswaldo, Tamarise Dias Ferreira Felicio. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Marina Teixeira Marques, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 16 de outubro de 2020.