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Paulo Cesar Rizzo

1949 - 2020

Ajudava os filhos com tudo. Sempre brincalhão, acobertava as travessuras do neto, a quem chamava de Zé Pitico.

Vascaíno, trabalhador dedicado, marido amoroso, pai companheiro, avô babão e brincalhão. Nessa ordem, não de importância e sim respeitando a cronologia, temos Paulo Cesar em uma linha do tempo, e há muito mais a ser dito.

Paulo Cesar deu início à sua vida profissional aos 15 anos no antigo curtume carioca. O trabalho com couro foi sua primeira fonte de renda e talvez a primeira prova de uma dedicação que ele carregou consigo por toda sua existência.

Sempre disposto a ajudar, fazia amigos onde quer que fosse e era muito querido por todos. Era também um ótimo companheiro para Vera Lucia, seu único amor. Os dois se conheceram em um baile e seguiram dançando juntos por quase 50 anos de matrimônio.

Paulo Cesar fazia de tudo por sua Vera, inclusive abrir a porta do carro como gesto de carinho e de cuidado. Dessa união sempre harmoniosa, nasceram Junior e Viviane, testemunhas de que o pai fazia de tudo por eles com um sorriso no rosto.

O que não falta são histórias para contar sobre Paulo Cesar. A filha Vivi lembra de quando o irmão Junior, jogando bola no quintal de casa, quebrou um vaso e deixou a mãe furiosa. Para se livrar da bronca, ele resolveu ficar na rua em frente à casa esperando o pai chegar do trabalho. Demorou tanto que o plano deu certo: ao voltar na companhia de Paulo Cesar, Junior escapou do castigo.

Vivi lembra também que, graças à sua dedicação no trabalho, o pai sempre pode e fez questão de pagar os estudos da filha. Gostava de acompanhar sua trajetória de pertinho, participando do dia a dia e das conquistas.

Aproveitava ao máximo cada oportunidade que tinha para festejar. O aniversário de 15 anos da filha, sua formatura na faculdade de direito, seu casamento e nascimento do único neto homem estão entre os momentos em que Paulo Cesar deixou que o mundo inteiro soubesse de sua imensa alegria, fosse dançando ou brindando a vida.

Por falar em netos, Paulo teve três. O filho Junior se casou com Janaína e da união nasceram Larissa e Lorena. A filha Viviane se casou com Maxwell e, juntos, trouxeram ao mundo o Guilherme ou o Zé Pitico, como era chamado pelo vovô.

Gui foi o neto que mais conviveu com o avô porque Paulo Cesar já estava aposentado e pôde cuidar dele desde seus primeiros dias. Vivi conta que, durante os 40 dias de resguardo, recebeu ajuda de sua mãe Vera Lucia, e também de seu pai, sempre presente.

O Zé Pitico do vovô cresceu e se tornou… flamenguista! Mas isso nem de longe abalou a relação entre eles. Na verdade, a ligação entre os dois só evoluiu com o tempo. Paulo Cesar gostava de levar o neto ao futebol e vibrava muito ao comemorar os gols que Gui fazia. Também o levava para passear no shopping, para as aulas de catecismo e para os eventos da igreja.

Paulo Cesar e Gui também se divertiam juntos jogando videogame e, com tudo isso, desenvolveram uma cumplicidade especial. O avô gostava de implicar com o neto, de brincadeira, fazendo cócegas e coisas do tipo. O Gui respondia "pintando e bordando" como toda criança faz e, quando a mãe ia repreender, era repreendida por Paulo Cesar que sempre protegia seu Zé Pitico.

Em família, foram muitas as memórias regadas à comilança, muito afeto, alguns "perrengues" que entraram para a história, além de muitos passeios e viagens, sobretudo para Cabo Frio e Arraial do Cabo.

Depois de se casar, Viviane passou a ser a anfitriã das celebrações do Natal e, como cozinheira de mão cheia, era responsável por vários pratos que Paulo Cesar adorava. Em especial, a bacalhoada com cebolas cruas e batatas cozidas. Mas engana-se quem pensa que ele era só bom de garfo e pronto. Paulo fazia questão de ajudar a desfiar o bacalhau, limpar o frango, cortar os legumes, separar o feijão… estava lá para dar uma mãozinha em qualquer prato.

Aliás, Paulo Cesar ajudava em qualquer ocasião. A filha lembra, entre boas risadas, das vezes em que o pai a socorreu quando o carro estragou na rua ou quando ele foi à caça de uma lagartixa que a expulsou do próprio quarto e a fez dormir no sofá de tanto medo. Foi o paizão que encontrou o bichinho e o levou gentilmente para fora da casa da filha, deixando todos a salvo.

Paulo Cesar era presença. Gostava de estar com os seus e, com isso, conquistou um lugar especial no coração de cada um sem o menor esforço. Até os amigos de seus filhos, que também se tornaram amigos dele, sabem disso. É grande a lista de pessoas que atestam o quão querido Paulo sempre será.

Paulo nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Paulo, Viviane Mondaini Rizzo e Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 27 de dezembro de 2020.